sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Motivo

"E um dia sei que estarei mudo - e mais nada"

Começo assim: citando Cecilia para tentar me inspirar.

Hoje posso dizer que inspiração não há. Talvez seja pelo cansaço extremo, pela vontade louca de sair um pouco dessa vida que estou levando, nem que seja por uns dois dias, somente para relaxar e aproveitar um pouco a vida aqui na África.

Bem, cá estou eu. 21 horas aqui em Macuse, não há ninguém além de mim na escola. Todos estão na reunião da FRELIMO, partido político do presidente em exercício e que na quarta-feira tenta se reeleger. Aqui é assim, não existe esse negócio de ser apartidário não. Também, não vi nessa região muito a RENAMO, partido oposicionista. Cheguei a ir la no refeitório ver o que o partido estava a falar com os alunos e professores. Desisti. Melhor vir aqui e postar no meu blog, já que não há alunos, é mais fácil conseguir navegar.

Vou falar um pouco do que eu, Bia, estou sentindo nesse momento. Hj faz dois meses que aqui estou na África. Para alguns pode ser nada, mas para quem está aqui o negócio é diferente. A pobreza extrema machuca o meu coração. Ainda não é normal para mim, andar pelos vilarejos e ver as senhoras mamás, de mais de 50 anos, andando descalça pelas ruas. De ver crianças andando sujas e com roupas tão furada que vc se pergunta o pq que elas ainda as usam. De ver o quanto quem tem dinheiro nesse lugar, aumenta cada vez mais suas riquezas. Estou há um mês sem conseguir dormir direito. Sinceramente, não sei. Cada um que chega e sobe as escadas eu escuto. Acordo junto com o nascer do sol. Tento ficar na cama, mas como eu ja acordei antes, 3 da manhã, a essa hora ja estou cansada de esperar dar um horário normal.

Mas isso tudo é momentâneo. São dois meses somente, mas muito intensos. Agora, na reta final do ano letivo dos Futuros Professores, corro contra o tempo para conseguir ainda ensinar algo antes dos exames finais.

Tenho uma excelente história hj. Vou falar sobre a Gracinda. No fim do meu post vou expor o trabalho dela. Quem quiser apreciar... segue!

Tenho que ir!

Vão desligar a internet!

Saudades imensas...

Galera ADOTA UMA CRIANÇA! AJUDE UMA CRIANÇA AQUI! A campanha começou. O pouco que vc pode ajudar, é muito por aqui! Faça algo diferente nesse fim de ano. Meu email: annabia7@gmail.com. Vou postar a foto das crianças que podem ser adotadas, com doações de roupas, material escolar e etc... desculpem ainda não ter feito isso, mas a qualidade da internet não deixa!

Fui

Bia

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Hoje irei expor um trabalho de uma aluna que considero entre tantos, a que mais é aplicada e com força de vontade. Um dos motivos aos quais quis desenvolver aqui em Moçambique projetos ligados a educação é que vejo nela a única solução para males como HIV/AIDS, a violência que cresce a passos largos aqui em Moçambique, a pobreza... enfim, como já disse anteriormente, meu projeto é com futuros professores das áreas rurais. O maior problema aqui em Moçambique em relação a língua portuguesa, que apesar de ser a língua oficial do país, 97% da população a utiliza como a 2ª língua. Sendo assim, encontramos futuros professores a vista de se formar ainda escrevendo antes de P e B “n” e vice-versa nas regras gramaticais. Considero isso um erro bem básico que posso dizer que já na 2ª série no Brasil uma criança já não pode mais apresentar. Em virtude da aprovação automática que existe aqui, os alunos me informam que se deparam crianças de 5ª série nas áreas rurais que ainda não sabem ler e escrever. Como isso acontece? Como os professores não se importam com isso? Bem tenho minhas teorias, mas falta para mim experiência em campo para julgar, prefiro não comentar nesse momento, espero que no final dos seis meses de minha experiência aqui tenha uma opinião formada com detalhes teóricos e práticos.

Somente para introduzi-los sobre a educação moçambicana, ele é paga. Não há educação 100% gratuita, mesmo que seja um valor irrisório, eles tem que pagar. O primeiro ano escolar inicia-se em grande parte entre os 5 e 7 anos. Há dez anos de estudo básico. Para serem professores rurais, tem que estudar os 10 anos e fazer 1 ano de especialização (esse um ano é o meu projeto). Se quiserem ingressar na universidade, precisam estudar mais dois anos dos 10 básicos e somente após podem ser elegíveis a uma vaga que aqui tem valor astronômico comparado ao poder aquisitivo de grande parte dos moçambicanos.

Gracinda tem a minha idade, percebam a escrita dela, para padrões está bom. Se eu tivesse a encontrado no início da formação e estado 1 ano, daria para fazer um excelente trabalho. Ela foi a primeira que assim que me viu, pediu ajuda para ensiná-la desde informática até o inglês. Culpo a minha ausência de tempo para dar atenção devida, mas convido-os a lerem até o fim. A proposta foi eles escreverem sobre a vida deles, o motivo ao qual querem ser professores e quais os sonhos e dificuldades apresentadas durante o percurso da vida. Solicitei a autorização da mesma para postar aqui o trabalho dela. Somente não esqueçam que a guerra civil aqui terminou em 1992.

Boa leitura e deixem seus comentários sobre como posso cada vez mais melhorar aqui meu trabalho.





Gracinda Manuel Murapue, filha de Elisa Malupanha e de Manuel Murapue, nascida no dia 28/02/1984 (25 anos), no distrito de Gurué, província da Zambézia, nacionalidade Moçambicana, solteira e residente do bairro comunal do Gurué.

Minha Infância foi muito boa, porque o meu primeiro ano de escolaridade, foi primeiramente na escolhinha da Cé-Catedral do Gurué isto foi no ano de 1993-1994 o ano seguinte entrei na escola primária da companhia da Zambézia e lá aonde fiz a 1ª classe e 2ª classe nos anos 1995-1996.
É desta maneira que a minha infância foi muito boa porque além de estudar também brincava muito. Eu era uma menininha que gostava muito de jogar a neca, cantar com as amigas, fazer roupa de bonecas e também gostava muito de escutar histórias antigas, neste momento eu chorava muito para ir a escola com meus amigos.

Crescer em Moçambique é muito bom porque aprende-se a fazer muita coisa que possa cervir de benefício para a mesma pessoa, como por exemplo: coser a máquina, alias a mão, cozinhar, fazer bordados (custura), capinar, arrumar a casa, saber saudar as pessoas e conviver com todos.

Antes de entrar na EPF eu era estudante, neste momento já estava frequentar a 12ª classe no distrito do Gurué isto foi no ano passado 2008. eu já estava no 3º trimestre com a 12ª, e depois vim-me esscrever aqui na EPF, com tudo, o meu nome saiu para fazer esta formação de professores, como este foi o meu grande sonho, tive que anular os estudos e começar a formação de professores e assim aconteceu.

Eu decidi ser professor porque este sempre foi o meu sonho e antes de entrar nesta formação, fui professora da escolinha, isto foi nos anos de 2003,2004 e 2005 em que ganhei experiências de trabalhar com as crianças, durante estes 3 anos as crianças já sabiam escrever os seus nomes e conseguiam ler as palavras em sílabas. E apartir desta experiência ganhei mais vontade de ser professor, mas agora com esta formação, sou capaz de ensinar a qualquer pessoa seja adulto ou criança.

A maior dificuldade na minha vida foi a perda do meu pai, porque quando meu pai faleceu, fiquei sem ninguém para ajudar-me na compra do material escolar.

A minha maior alegria foi no ano de 2005 em fiz crisma e aniversário da minha sobrinha emque fizemos muitos brinquedos para ela, e também uma das alegrias é a saúde de que me acompanha.

O meu grande sonho é de viajar para o extrangeiro, quero conhecer fora de Moçambique; eu quero conhecer Italia ou então Brazil também aprender a falar English é o meu grandissimo sonho deste a minha adolescência.

20/09/2009 – Gracinda Manuel – Estudante da Escola de Professores do Futuro