quarta-feira, 5 de maio de 2010

Chegada

Nada como chegar em casa. Depois de 1 ano fora a melhor coisa é receber o abraço da mãe, a lambida da Twiggy e ligações e mais ligações.

Os dias foram um tanto quanto corrido aqui pelo Brasil. Cresci mais um pouco. Daqui a pouco alcanço os 1,60 m!! Ok, sei que é impossível crescer mais alguns centímetros, mas essa viagem me fez conhecer o que eu sou e o que eu realmente quero dessa vida.

Tive reencontros beeem tristes. Mas encontrar a Magna, com quem passei maravilhosas 2 semanas em Changalane, Moçambique juntamente com seu esposo Felipe (o casal mais apaixonado que já encontrei em toda a minha vida, lindos), reencontrar a galera do CCTG, minha escola de voluntários na Califórnia num bar lá pertinho do Masp, rever o Chicão e principalmente, conhecer a maezona linda da Carol, sua amiga e a família da Anna, outra voluntária que em breve vai a Moçambique, fizeram desse 1 mês em viagem pelo Brasil com o time de janeiro um momento único. Um momento aonde pude rever alguns conceitos que tinha sobre esse brasilzão.

Vou comentar sobre esses meus dias aqui em outro momento. Esse post é só para ter alguma novidade.

Mas acho que no meu caminho o que mais me deixava excitada era ler bancas de jornais, bares e livrarias com o nome Kanimambo. Para quem não sabe, kanimambo significa obrigado em changane, uma das línguas faladas em Moçambique. Quando eu lia kanimambo, fazia eu parar por alguns segundos e elevar meus pensamentos para os seis meses mais mágicos que eu já passei. Talvez o meu erro era não ter conversado com os donos para saber o motivo ao qual escolheram esse nome, tb pudera né?! Seria demais encher a paciência das pessoas com minhas perguntas.

Falando em perguntas, estava eu numa festa em sampa quando eu me deparei com uma menina vestindo capulana. Linda, claro. Queria saber aonde ela tinha comprado, qual era o país. Estúpida a menina. De cara perguntou para mim se eu achava que ela era alguma rainha africana, com um sorrisinho prepotente. Depois me disse que era algo de família que não sabia daonde era. Não me dei ao trabalho de permanecer conversando com ela. Deixa pra lá né? Mas é algo que vi muito no Brasil. O movimento negro cresce mas sem raízes. Como um modismo, é legal falar que é negro, africano, usar roupas e ainda por cima falar mal da camada "branca" brasileira. Mas faltam informações. Isso que senti muito. Alguns queriam saber da minha história, mas queriam mais era falar do que escutar. Eu gosto de escutar mais do que falar. Fato. Quando falo é pq não aguento o grau da situação ou quando um assunto me interessa por demais. Sobre África, gosto de escutar. Nesse caminho descobri que há um buraco que nos impede de enxergar a realidade e a real cultura dos nossos irmãos que estão bem próximos a nós. Mas também percebi que poucos querem saber de verdade. Muitos querem mais é beber sua cerveja e mudar o rumo da prosa pra outra coisa (em especial, futebol, mulher, homem, futebol).

Mas assim estou de volta para minha destruída Niterói. Logo no primeiro dia, de sol intenso, vinha o cheiro de xurume misturado com decomposição de corpos na janela de minha casa. Foi algo estranho para mim. Não quis acreditar até me explicarem. Ainda há por lá, no morro do Bumba, 40 corpos segundo estimativas não oficiais. Todos os cantos que eu páro por aqui, se há uma história triste para contar. N'um mar dessas histórias, também há as boas. Os casos únicos. Acho que por enquanto o que mais me marcou foi a história de um menino que mora do outro lado do morro do Bumba. A parte que não desabou mas viu muitos amigos perderem a vida. Ele trabalhou 31 horas ininterruptas para tentar achar os seus amigos. Enlouqueceu um pouco depois. Mas um dos amigos q conseguiu resgatar tinha em cima do seu corpo uma parede. Os bombeiros não podiam cerrar e quebrar, ele ficou ao lado do amigo conversando e acalmando por longas horas até conseguirem retirá-lo com vida.

Muitas vezes achamos que as "ferramentas" irão consertar e construir tudo, mas não conseguem nos consertar, construir ou nos manter. E isso meus amigos, e é isso que eu mais percebi nesse caminho. Uma busca louca por inovações, cada um procurando ter o máximo de ferramentas possíveis para agradar o que a sociedade "precisa" e, no final, as mãos cansam tanto que vemos uma sociedade estressada, com medo e com fronteiras invisíveis. Fronteiras essas dos "brancos" com os negros, da classe média com a favela, do luxo com a simplicidade (não nessas ordens, ambos os lados fronteiriços impõem tais fronteiras que todos se acusam sem ao menos enxergar que todos estão contra todos).

Kanimambo!

Bia