Desculpem o tempo em que eu nao posto. A internet aqui as vezes é inconstante. As vezes também a vida é inconstante. As vezes? Talvez sempre...
Bem, depois do último post, muitas coisas aconteceram. Comentei que eu cai das escadas? Sim, rolei 8 degraus abaixo, torci meu pé já se vão dois sábados atrás e alguns dias. Espero que a dor passe... mas tá passando, não vou a hospital aqui... quero evitar a fadiga...rs
Bem, posso dizer que essa tal de ignorância nunca passou por mim, talvez isso tenha sido um dos motivos mais dificeis nesse primeiro mês que aqui estou no meu projeto. Somente consegui tirar minha capa quando perguntei para a senhora Mamá que trabalha em minha residência sobre o que o presidente que ela faz campanha vai fazer por onde ela mora e para a vida dela melhorar. Ela olhou para mim, respirou profundamente e disse que provavelmente nada. Mas antes de eu dar aquele sorriso maroto de uma garota esperta que pegou ali o cerne da questão e tentava fazer ela pensar na política ocidental, de buscar no voto o motivo para conseguir sair de tanta miséria, entra um fator que nós não levamos em questão: a guerra civil. Essa questão é o centro de toda a linha de raciocínio político aqui em Moçambique. Ambos os principais partidos daqui foram os atores principais dessa guerra. E para uma pessoa que mal terminou os estudos básicos, mas que cheirou a morte de perto, o horror de ser escravizada pelos próprios irmãos negros numa guerra estúpida que varreu boa parte dos países da África Subsaariana é um fator pobre. Daí meus amigos, eu falo para vocês, todo conhecimento é inútil se não ande junto com a sabedoria popular, com as vozes nas ruas, com os comentários dos loucos. Não irei comentar sobre o que ela me disse, irei fazer um filmete sobre isso na minha câmera e irei passar nos EUA e no Brasil, para tentar convencer a nossa classe intelectual que a vida vai muito além dos livros e dos nossos conhecimentos estáticos em frente ao nosso computador.
Primeira Ministra - Luiza Diogo com as Mamás Locais. Saudações tradicionais.
Vou voltar a Primeira Ministra. A mulher fala bem. 1 hora e meia falando sem em nenhum momento consultar um papel. Sabe de informações da localidade ao qual está sem consultar números e datas. O político africano é muito bom em discurso. É muito bom com as massas. Não comete tantas gafes como no ocidente.
Gente, há tantas, mas tantas coisas a se falar sobre política, mas vou seguir as dicas dos meus amigos voluntários: não comentar sobre nada isso. Principalmente aqui. Ser isento em opiniões. Como uma voluntária brasileira me disse: “o nosso melhor amigo aqui é a nossa passagem da South African Airlines para irmos embora. Ele é a nossa única família e a nossa única segurança.” Eu sou um pouco ousada, eu sei. Estive presente no discurso da ministra fechado para funcionários. Era a única branca no recinto, claro que eu era muito visada. Não pude filmar tudo. Quando chegou um dado momento o segurança pediu para eu parar. Gelei. Aqui se há muito medo. Eu não tenho tanto, mas gelei. Na mesma hora voltei para minha insignificancia e parei de filmar. Durante a apresentação dela para o povo, furei bloqueio de segurança, me senti uma jornalista. Pelo fato de eu ser branca, eles são as vezes benevolentes comigo. Até a hora de um segurança vir e me empurrar mandando eu sair da frente. Saí. Faz parte de quem quer as melhores filmagens e imagens. Consegui o que eu queria. Não ligo. Sinceramente, apesar de pedirem para eu parar com essa minha incursão no povo sobre a campanha eleitoral, eu continuo fazendo. Oportunidade única. E não tenho medo disso, tenho medo aqui é da cultura machista que nada tem a ver com a política. Isso me da medo, agora política? Não... Mas é melhor eu parar por aqui sobre esse assunto.
Estou pensando em raspar o meu cabelo. Aqui todos olham muito para ele e todos acham bonitos os nossos cabelos de “branco”, eu não gosto de ser diferente. Dependendo se eu acordar um dia muito corajosa, irei cortá-los, então já estejam avisados. Não que eu seja louca, no RJ vão achar que eu virei lésbica, mas os meus amigos vão saber que eu só não queria ser diferente...
No mercado e\ou shopping center local. Mercado de Macuse.
Bem, estou feliz, já toquei a água do Atlântico, do Pacífico e agora do oceano Índico. Da praia daqui posso dizer que a água e tão morna que dá vontade de ficar la dentro ate o sol dar adeus, mesmo aqui estando frio. Totalmente diferente do Brasil e EUA. Mas prezados, o medo de tubarão, que eu vi os pescadores carregando, não fez nem eu molhar minha coxa! Rs Falaram que é no auto mar que tem tubarão, mas vai saber né?! Ahuahuahuahau
Gente, a Carol, uma amiga minha ,voluntária também, e que já esta finalizando o projeto, veio aqui em Macuse visitar. Foram dias maravilhosos, mesmo ela trabalhando muito e eu também. Somos duas cabeçudas mesmos, levamos a sério demais nossos trabalhos! Mas valeu a pena cada momento... fomos no mercado e “causamos lá”, tiramos fotos, todos queriam tirar fotos... fizemos tudo que pudemos fazer... dançamos nas ruas, cantamos, brincamos com as crianças e fizemos algumas chorarem com medo de nós (ainda há crianças aqui que tem medo de branco, entao quando nos vê, chora e chora... a Carol queria dar mais sustos nelas... a Carol as vezes é pior que criança... rs)
Carol "causando" no mercado de Macuse.
Melhor terminar por aqui né!? Gente, estou pedindo doações para a escolinha local. Preciso de mil reais para garantir o funcionamento dela por um bom tempo e fazer com que ela se sustente sozinha sem a ajuda de voluntários ou de ajuda externa. Meu trabalho é esse aqui, não quero ver esse povo dependente eternamente, mas até para os primeiros passos há a necessidade de investimentos. Quem puder ajudar, podem me enviar um email: annabia7@gmail.com que eu irei dar a conta bancária para depósitos. Qualquer dinheiro faz a diferença. 5,10,15 ou qualquer um real faz a diferença... Material para mim seria melhor, como jogos lúdicos, revistinhas infantis, livros de todas as espécies, caderno, lápis de cor, hidrocor, papel, enfim, essas coisas são bem boas. Mas acho que fica mais caro pois o envio para cá é difícil, não sei quanto o correio cobra, mas quem quiser doar dessa forma, também me envia um email que iremos conversar. Um pouco de cada um de nós, ajuda muito a tirar essas crianças da miséria e dar para elas perspectivas de um futuro melhor.
Chapa. Nosso meio de transporte. É assim mesmo, bem cheio. No site das relações exteriores brasileiras diz que os estrangeiros nao usam esse meio de transporte aqui. Acho que o cônsul não conhece os voluntários...
Meus caros, obrigada por tudo
Amo vocês,
Bia