quinta-feira, 25 de novembro de 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

"Os governantes que temos tido têm medo de quem pensa!"

Venho lendo e muito sobre a crise de alimentos em Moçambique. Venho lendo também o grito de quem pede mudanças. Uma série de erros por parte da Frelimo faz com que Moçambique grite. Mas não o suficiente.

Falando por mim, eu não vejo uma mudança nos rumos políticos nas próximas eleições. Não que o povo seja burro, como no Brasil ousamos em dizer quando discutimos políticas. O povo sabe muito bem que acontece, mas você já viu alguém votar no seu algoz? Se há a sensação nas ruas que o partido Renamo, concorrente direto da Frelimo tenha matado muito mais moçambicanos durante a guerra civil. Você votaria em quem matou sua família e amigos?

Por outro lado, também não sinto nenhuma vontade da Renamo em fazer política séria.

Estou sendo pessimista, não? Sim, eu sei que estou sendo, mas não adianta sorrir quando tudo tá errado! Li uma matéria que Moçambique pede mais ajuda aos países subdesenvolvidos. Li em outra matéria que o subsidio do pão dado pelo governo não chega as pessoas que necessitam. Para quê mais dinheiro se eles não sabem como gastar?

Minha tristeza foi saber que a crise de alimentos em Moçambique está escrita há muito tempo. Está escrita porquê não há nada que os governos querem fazer para terminar? Porque parar de ser o pobre coitado se dá lucro?

O problema da pobreza é que o ciclo vicioso dela periga justamente na ajuda. Estender a mão e pedir é mais fácil que plantar na terra...

Cem mil pessoas enfrentam a crise de fome no centro de Moçambique

De Agencia EFE – Há 1 dia

Maputo, 20 set (EFE).- Cerca de cem mil pessoas de vários distritos da província de Sofala, no litoral central de Moçambique, enfrentam a crise de fome devido à seca e às inundações registradas na região, informou hoje a imprensa local.

A província conta com pouca disponibilidade de alimentos de reserva e os afetados não têm outras alternativas para a subsistência, segundo o chefe da Direção Provincial do Ministério da Agricultura de Sofala, Nelson António.

António, citado hoje pelo jornal "Notícias" de Maputo, destaca que a situação pode se agravar quando se esgotarem os poucos mantimentos que ainda existem em seus armazéns de reserva.

O Instituto Nacional de Gestão de Desastres pediu ajuda ao Programa Mundial de Alimentação para fazer frente a esta situação, que pode afetar no período 2010-2011 cerca de 63 mil famílias (250 mil pessoas) na região.

Calcula-se que Moçambique, um dos países mais pobres do mundo e que sofre crises de fome cíclicas, tenha 36 milhões de hectares de terras cultiváveis, embora só explore uma pequena parte delas.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Polícia dispersa manifestantes em novo protesto em Moçambique

Site Terra Noticias

03 de setembro de 2010 • 14h38 • atualizado às 14h47

A polícia de Moçambique disparou balas de borracha e gás lacrimogêneo em manifestantes nesta sexta-feira quando os enfrentamentos aumentaram na capital do país após dois dias de protestos devido aos altos preços do pão. Sete pessoas já morreram e centenas ficaram feridas desde o início das manifestações.

Após uma calma inicial na capital Maputo, a polícia disse que manifestantes começaram a saquear os subúrbios da cidade, e as autoridades usaram balas de borracha para dispersar a multidão.

"Os conflitos se resumiram aos subúrbios de Maputo, em Benfica e Hulene. Eles estão tentando saquear. A polícia está disparando balas de borracha e gás lacrimogêneo para dispersá-los", afirmou o porta-voz da polícia, Arnaldo Chefo.

Não houve relatos imediatos sobre feridos.

Os protestos também ocorreram na cidade central de Chimoio, localizada 760 quilômetros ao norte de Maputo, e pelo menos seis pessoas ficaram feridas depois que a polícia abriu fogo sobre os manifestantes, informou a agência de notícias portuguesa Lusa.

"Dois dos feridos estão em estado grave", afirmou à agência Lusa Teresa Inácio, uma enfermeira no hospital provincial de Chimoio.

As mortes nos conflitos que começaram na quarta-feira incluíram duas crianças que morreram quando a polícia abriu fogo contra manifestantes que bloquearam ruas, incendiaram pneus e saquearam lojas nos mais violentos confrontos desde 2008 no país africano, que tem 23 milhões de habitantes.

O ministro da Indústria e do Comércio de Moçambique, Antonio Fernandes, calculou prejuízo de 3,3 milhões de dólares no país do sul da África, onde 70 por cento da população está abaixo da linha da pobreza.

Partidos de oposição e grupos de direitos humanos criticaram o governo, dizendo que ele falhou ao medir a indignação que causaria o aumento de 30 por cento no preço do pão, além de elevações nas tarifas da água e da eletricidade.

"O governo subestimou a situação e não consegue entender ou não quer entender que este é um protesto contra o alto custo de vida", afirmou à Lusa Alice Mabota, chefe da Liga Moçambicana para os Direitos Humanos.

Embora o país seja uma das economias que mais cresce na África, nunca se recuperou totalmente de uma das guerras civis mais sangrentas da África, que acabou em 1992. A nação tem uma taxa de desemprego de 54 por cento.

"As coisas estão voltando ao normal agora e podemos retomar nossa vida normal", afirmou a policial Julia Fortes em uma fila para comprar pão no centro de Maputo, onde a situação se acalmou nesta sexta-feira.

Alguns moçambicanos disseram que os protestos causaram grandes danos à estrutura social da cidade. Em 2008, manifestações contra os altos preços dos produtos deixaram pelo menos seis mortos no país.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Um respiro

Nesse momento me bate uma grande dor no meu peito. Uma dor inconsolável, uma dor que fizeram minhas pernas pararem. Fizeram minhas pernas tremerem. E agora silencia meu coração.

Até que ponto nós temos o direito de julgar? Até que ponto nós temos a inteligência quando nos deparamos diante da ignorância. PERGUNTO EU: ATÉ QUE PONTO SOMOS CAPAZ DE DISTINGUIR A IGNORÂNCIA?

Já estou farta de voluntários que só são voluntários porque ainda nao se acharam no mundo. PORRA! NÃO IMPORTA SE SOMOS BRANCO, PRETO, VERDE, AMARELO. NÃO IMPORTA SE SOMOS HOMENS, MULHERES, BISSEXUAIS, HOMOSSEXUAIS. NÃO IMPORTA! NÃO IMPORTA A NOSSA MERDA DE CONTA BANCÁRIA. O que importa o quanto somos capazes de fazer diferente. De agregarmos o nosso melhor pra pessoas que também nos agregarão várias coisas.

Uma pausa, somente uma pausa pra todas as pessoas que nesse momento querem ser voluntários, ou querem conhecer a África. Independente do seu objetivo, respeite as pessoas. RESPEITE! Não se ache superior ou inferior. Somos muito além de labels. Somos muito do que simplesmente nos acharmos melhores ou piores. Somos muito mais do que tudo que nos propormos a falar. Somos aquilo que praticamos diariamente. Somos aquilo que fazemos. Somos aquilo que plantamos.

Palavras o vento leva. Trabalho o tempo corrói, mas nada destrói quando é feito com o coração. Quando é feito com amor!

Historia se é passada de geração por geração por pessoas. Pense nelas, viva elas, esteja com elas.

Paz pra todos,

Bia Vilela

sábado, 24 de julho de 2010

Haiti e Moçambique são os países mais ameaçados pelos desastres naturais

Segue um reportagem do jornal O Globo publicado em 10/7/2010...

"OSLO - Haiti e Moçambique são os países economicamente mais ameaçados por desastres naturais, segundo um ranking divulgado nesta quinta-feira, com resultados preocupantes também para alguns países ricos, como Itália e Estados Unidos.

A consultoria britânica Maplecroft disse que o objetivo do novo índice é mostrar o impacto econômico de desastres ocorridos entre 1980 e 2010, como terremotos, inundações, secas, deslizamentos, epidemias, tsunamis e ondas de frio e calor extremos.

O Haiti, atingido por um forte terremoto em 12 de janeiro que deixou 300 mil mortos, lidera o ranking. Mas, mesmo sem o tremor, a rotineira exposição a furacões já bastaria para deixar o país caribenho perto do topo.

Moçambique, que sofreu uma severa inundação em 2000, quando pelo menos 800 pessoas morreram e os prejuízos chegaram a 400 milhões de dólares, ficou em segundo lugar. Em seguida vieram Honduras, Vanuatu, Zimbábue, El Salvador e Nicarágua.

Entre os países industrializados, a pior situação foi a da Itália, 19a colocada no ranking, principalmente por causa de terremotos e de uma onda de calor em 2003, segundo a Maplecroft.

Os Estados Unidos, que sofrem enormes prejuízos econômicos por causa de furacões como o Katrina, de 2005, estão em 30o lugar. A China, onde em 2008 um terremoto matou quase 90 mil pessoas na província de Sichuan, ficou em 26o.

"O Katrina custou 45 bilhões de dólares, enquanto o governo chinês estimou o custo do terremoto de Sichuan em 2008 em 123 bilhões de dólares," disse Anna Moss, analista ambiental da Maplecroft, em nota.

Ela disse à Reuters que o índice se baseia em um banco de dados sobre desastres, chamado EM-DAT, com sede na Bélgica, mas leva em conta também os prejuízos econômicos proporcionalmente ao PIB, o número de mortos e a frequência dos desastres.

Segundo ela, as empresas "precisam estar cientes dos impactos potenciais," para ajudar nos preparativos contra desastres e proteger seus funcionários e investimentos.

Países como Iraque, Kuwait e Finlândia, com baixa incidência de desastres naturais, foram considerados de baixo risco econômico sob esse indicador"

terça-feira, 8 de junho de 2010

Um dia em Macuse...

"Você é o meu conto de fadas, minha alegria, meu conto de fadas, minha fantasia"


"Com você, aprendi o que é o amor, e sempre que for pensar em você, carinhosamente vou dizer..."

São frases das duas músicas, uma na voz de Maria Bethânia e outra na voz de Luciana Mello. Não pára de tocar no meu youtube. Com a inspiração de ambas, que nada tem a ver com o próximo dia comercial dos enamorados, que irei postar hoje.

Estava num momento bem distante. Acho que meus dias no Brasil estão sendo tão intensos que parece que nem mais sinto o cheiro de Macuse. Parece que Macuse e Moçambique ficaram em uma dimensão de sonhos, algo que as vezes paro pensando se realmente eu vivi. Aí, nesses momentos, relembro histórias hilárias. Hoje vou contar uma que tive em Macuse, quando estávamos fazendo uma festinha de despedida, mais uma das +/- 10 que fizemos por lá antes de irmos embora (festa, diga-se de passagem, pra 2-3 o mais cheio? 4 pessoas... rs, sabe como é "carioca né?!", não se contenta em se despedir uma vez, tem que ter várias vezes, ossos sendo enterrados diariamente...).

Bem, lá estávamos nós, em um sábado do mês de janeiro, quando no dia anterior decidimos fazer uma festinha no dia seguinte. Um dos companheiros de casa convidou a peace corps que lá vivia. Então, confirmado na hora que a dita cuja iria, lá sai eu com a bicicletinha atrás de coisitas pra que a festa pelo menos não fosse tão simples.
Eram mais ou menos 17:15 horas, na estação de chuvas, umas 17:40 já estava um breu suficiente pra não se enxergar nada a um palmo de distância, sai eu de casa. Olho no meu bolso, esqueço o maravilhoso celular/lanterna que eu tinha. Pensei: vou e volto rápido, há de dar tempo.

Quem me conhece sabe que eu sou as vezes positiva demais e freak out demais também. Com a junção de ambos, passo pela tão temida ponte quase caída, chego na primeira casinha, ao qual fui buscar algum quitute. Nada, a senhora tinha parado de vender. Isso já era o sol sumindo. Desespero. Vejo que se escurecer e não conseguir atravessar aquela ponte de novo, vou ficar do outro lado, e o medo de cobras e afins começa a tomar conta de mim.

Vou ou não vou? Vou comprar ou não?! Bem, pra quem me conhece, eu nunca saio em uma missão sem completá-la da forma mais digna possível. Descobri naquele dia que haviam aberto um digamos, hotel. Lá eu acharia o que procurava (galera, escrevendo estou me sentindo até que estava comprando drogas... rs... mas era coisa normal pra se fazer jantar... hahaha). Quebrando uma das regras: não saia sozinha de casa e muito menos a noite, lá estava eu, correndo para pegar o lugar aberto.

Olho para o céu, de vermelho começa a mudar para azul petróleo. A noite estava próxima, o breu e o meu medo também. Um cachorro poderia farejar isso tudo há uma milha de distância. Meu Deus! Dá para me atender logo? Estava eu bufando esperando que o pseudo hotel, vendinha e bar, algum ser que ali trabalhasse, pudesse me atender. Quem conhece moçambicano sabe: paciência é virtude... african time, baby, african time!!

Eu, com toda a minha educação possível (não podemos ser mal educados, assim simplesmente eles não atendem), pedi o que queria. O menino diz que tem que terminar de contar o dinheiro. Eu digo, "meu filho! Tenho que ir embora agora, por favor me atenda e depois você conta o dinheiro". Acho que ele percebeu o temor dos meus olhos. Atendeu. Uma coisa que por aqui levaria não mais que alguns segundos, lá leva alguns minutos. Minutos esses que estavam mais contados que dinheiro de assalariado mínimo. Pegou tudo. Ai meu Deus! Graças! Eu penso rápido, então, na minha cabeça já estava xingando até a vigésima geração da nossa convidada.

Dei o dinheiro. "Xiiiii, tenho troco não.", me diz o atendente. "Aii, você tem troco sim! Olha aí na caixinha." Pega dali, daqui, pede pra um dos clientes e está lá. "Faltam 10 meticais." Tudo bem, queria fugir dali o quanto antes.

A mala de viagem da Elis servia e muito como nossa mala para compras. Botei tudo ali dentro, na hora de prender na bicicleta, ela cai. Sabe aquelas séries de espião aonde são contados cada segundinho? Cada gota de suor parecem um dia? Era isso que eu estava sentindo. O céu já estava escurinho. Sabia que não mais que uns 7 minutos eu teria. Sabia também que a ponte estava dali uns 5 minutos correndo (o caminho todo era de areal, sabia que iria ter que fazer um esforço acima do normal).

Aaaaaaaaaahhhh!!! Minha cabeça girava a mil. Consegui pôr as coisas na bicicleta. Na primeira pedalada, gente não é mentira, não é cena de novela ou filme americano, simplesmente a corrente soltou! Desci, me acalmei, tentei esquecer e por o mais rápido possível. Pronto. Minha barriga doía. Noite, cobras, possível louco querendo estuprar uma muzunga, um outro bicho qualquer, gente bêbada, cadê postes com luz pública?, cadê uma ponte decente? cadê pelo menos uma rua? detesto mato! detesto ter medo. Ai! Tudo isso passava na minha mente enquanto meus dedos passavam pela graxa da corrente. Aí me lembrei, me dei um soco cerebral, tinha bicicleta, porquê nunca aprendi a mexer nelas? Botei. Pronto.

Olhei para o céu. Escuro o suficienta para eu começar a chorar. E tá lá uma lágrima a sair do meu rosto. Passou vagamente o dia em que eu fiquei presa em Supinho. Subi na bicicleta. Corri. Corri como nunca na minha vida. Já não enxergava muito. Batia em buracos no areal. A bicicleta prendia. Fui pelo meio do matinho. Virei na esquerda. A ponte estava chegando na mesma proporção que a escuridão tomava conta. Ainda dava pra enxergar a 1 metro de distância. Menos pior, né? Corri. A bicicleta não conseguia subir por uma leve elevação: muito areal. Desci da bicicleta. Corri com ela. Meu Deus! Tá chegando. Minha excitação e a minha luta pela "sobrevivência" fazia me lembrar que eu já estava quase indo embora daquele país.


Para quem não se lembra ou é a primeira vez que lê o meu blog. Tinha um total pânico da ponte. Eu passava por ela igual a bebê, ou engatinhando (sim! igual a bebê!) ou de mãozinha dadas com a Elis. Sempre riam da minha cara, mas lá estava eu. Cara-a-cara com os dois maiores medos que eu tinha naquela minha vida: a escuridão e a ponte.

Vejo a tão bela e detruída ponte. Respiro. Ainda dava pra olhar três toras. Nada mais. Não dava pra ver o final dela. Mas quem liga? O importante é que eu enxergava 3 toras! Desci. Fui. Pé a pé. Desequilibrei logo no início. Continuei. Cheguei ao fim. Gritei! Campeã da Copa do Mundo! Chorei que nem criança. Quando cortei caminho pela machamba (ou garden ou plantação de milho), tive que descer da bicicleta, já não dava mais pra enxergar, mas estava há algumas dezenas de metros da "rua" que levava a minha casa. Nela tinham alguns postes com luz. Meu Deus. Apesar de ainda ter o medo de cobras em minha mente, a única coisa que se passava nesse momento era que eu tinha vencido a ponte e a escuridão. O choro era uma mistura de alegria e tristeza. O choro era a lavagem da minha alma.

Cheguei em casa. Olho para cima, aonde ficava nossa varanda. Lá estava a convidada que eu tanto xinguei na mente. Sentada tinha um outro brasileiro e a Elis. Eles conversavam em inglês. Fiquei olhando para eles. Por um bom tempo eu chorava e ficava lá embaixo olhando para eles até eu pedir ajuda. Elis desceu. Minhas pernas tremiam tanto que nem eu entendia.

Sempre sou a menina forte e destemida. Lá eu conheci uma outra Bia. Aquele que de tão forte e destemida, passou a temer uma noite que de tão escura, fazia um barulho virar leão, e uma ponte, que de tão quebrada, me fazia a andar nela como se fosse uma criancinha.

Ah, a festa terminou bem tarde. Fizemos um jantar a la Macuse (tipo assim, macarrão com molho branco feito de cebola, óleo, pimenta preta, maizena, leite nido e sal), feijão e arroz. Best food ever! rs

Quero voltar pra minha vida de lá, aonde o tempo passa devagar e cada segundo é sentindo com um suspiro a relaxar.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Chegada

Nada como chegar em casa. Depois de 1 ano fora a melhor coisa é receber o abraço da mãe, a lambida da Twiggy e ligações e mais ligações.

Os dias foram um tanto quanto corrido aqui pelo Brasil. Cresci mais um pouco. Daqui a pouco alcanço os 1,60 m!! Ok, sei que é impossível crescer mais alguns centímetros, mas essa viagem me fez conhecer o que eu sou e o que eu realmente quero dessa vida.

Tive reencontros beeem tristes. Mas encontrar a Magna, com quem passei maravilhosas 2 semanas em Changalane, Moçambique juntamente com seu esposo Felipe (o casal mais apaixonado que já encontrei em toda a minha vida, lindos), reencontrar a galera do CCTG, minha escola de voluntários na Califórnia num bar lá pertinho do Masp, rever o Chicão e principalmente, conhecer a maezona linda da Carol, sua amiga e a família da Anna, outra voluntária que em breve vai a Moçambique, fizeram desse 1 mês em viagem pelo Brasil com o time de janeiro um momento único. Um momento aonde pude rever alguns conceitos que tinha sobre esse brasilzão.

Vou comentar sobre esses meus dias aqui em outro momento. Esse post é só para ter alguma novidade.

Mas acho que no meu caminho o que mais me deixava excitada era ler bancas de jornais, bares e livrarias com o nome Kanimambo. Para quem não sabe, kanimambo significa obrigado em changane, uma das línguas faladas em Moçambique. Quando eu lia kanimambo, fazia eu parar por alguns segundos e elevar meus pensamentos para os seis meses mais mágicos que eu já passei. Talvez o meu erro era não ter conversado com os donos para saber o motivo ao qual escolheram esse nome, tb pudera né?! Seria demais encher a paciência das pessoas com minhas perguntas.

Falando em perguntas, estava eu numa festa em sampa quando eu me deparei com uma menina vestindo capulana. Linda, claro. Queria saber aonde ela tinha comprado, qual era o país. Estúpida a menina. De cara perguntou para mim se eu achava que ela era alguma rainha africana, com um sorrisinho prepotente. Depois me disse que era algo de família que não sabia daonde era. Não me dei ao trabalho de permanecer conversando com ela. Deixa pra lá né? Mas é algo que vi muito no Brasil. O movimento negro cresce mas sem raízes. Como um modismo, é legal falar que é negro, africano, usar roupas e ainda por cima falar mal da camada "branca" brasileira. Mas faltam informações. Isso que senti muito. Alguns queriam saber da minha história, mas queriam mais era falar do que escutar. Eu gosto de escutar mais do que falar. Fato. Quando falo é pq não aguento o grau da situação ou quando um assunto me interessa por demais. Sobre África, gosto de escutar. Nesse caminho descobri que há um buraco que nos impede de enxergar a realidade e a real cultura dos nossos irmãos que estão bem próximos a nós. Mas também percebi que poucos querem saber de verdade. Muitos querem mais é beber sua cerveja e mudar o rumo da prosa pra outra coisa (em especial, futebol, mulher, homem, futebol).

Mas assim estou de volta para minha destruída Niterói. Logo no primeiro dia, de sol intenso, vinha o cheiro de xurume misturado com decomposição de corpos na janela de minha casa. Foi algo estranho para mim. Não quis acreditar até me explicarem. Ainda há por lá, no morro do Bumba, 40 corpos segundo estimativas não oficiais. Todos os cantos que eu páro por aqui, se há uma história triste para contar. N'um mar dessas histórias, também há as boas. Os casos únicos. Acho que por enquanto o que mais me marcou foi a história de um menino que mora do outro lado do morro do Bumba. A parte que não desabou mas viu muitos amigos perderem a vida. Ele trabalhou 31 horas ininterruptas para tentar achar os seus amigos. Enlouqueceu um pouco depois. Mas um dos amigos q conseguiu resgatar tinha em cima do seu corpo uma parede. Os bombeiros não podiam cerrar e quebrar, ele ficou ao lado do amigo conversando e acalmando por longas horas até conseguirem retirá-lo com vida.

Muitas vezes achamos que as "ferramentas" irão consertar e construir tudo, mas não conseguem nos consertar, construir ou nos manter. E isso meus amigos, e é isso que eu mais percebi nesse caminho. Uma busca louca por inovações, cada um procurando ter o máximo de ferramentas possíveis para agradar o que a sociedade "precisa" e, no final, as mãos cansam tanto que vemos uma sociedade estressada, com medo e com fronteiras invisíveis. Fronteiras essas dos "brancos" com os negros, da classe média com a favela, do luxo com a simplicidade (não nessas ordens, ambos os lados fronteiriços impõem tais fronteiras que todos se acusam sem ao menos enxergar que todos estão contra todos).

Kanimambo!

Bia

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Brazzzzssssil!!

Gente,

Ainda nao tinha comentado, somente quem acompanhava meu orkut soube que estou voltando ao Brasil. O legal eh como eu vou voltar: viajando!

Meu Camp Future aqui no IICD é ser team leader do time do Brasil. Isso quer dizer que cheguei no tempo de investigation então irei viajar o Brasil para fazermos uma investigação sobre a educação brasileira. Irei para Manaus, Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. Será 1 mês na estrada. O triste que só irei conseguir rever minha família e amigos somente em maio, mas já chego no Brasil na quinta-feira.

Uma oportunidade única para mim, conseguirei entrar na realidade educacional brasileira da mesma forma que fiz em Moçambique. Fazer um paralelo e escrever sobre isso. Quem sabe não sai um livro? Agora meu objetivo é ir para Angola e Guiné-Bissau. Na verdade queria conhecer todos os países que possuem a Língua Portuguesa como Oficial. Entender se somos irmãos realmente de língua ou não e como a educação influencia nisso. Vamos ver se conseguirei fazer isso. Mas quero e muito.

No Brasil irei viajar com duas mexicanas, a Lola e a Laura. Ambas serão voluntárias no projeto que a ONG tem na Bahia. Eu sou uma estúpida sobre o meu próprio país. Aonde elas vão viver a região não tem água encanada e nem sistema de esgoto. Uma pequena África lá. As vezes vamos tão longe e esquecemos de cuidar do nosso próprio jardim.

Vou dar uma pequena pausa com o meu blog. Mas tentarei postar. Ok?

Agradeço todas as orações que as pessoas fizerem por mim enquanto estava na África.
Agradeço toda a força e suporte que tive dos amigos e familiares para que eu pudesse viver esse sonho.
Agradeço aos americanos por ter feito esse sonho possível tb e ter mudado minha concepção sobre tudo aqui. O antiamericanismo é estupidez. Políticos e politicagens nada tem de comum com a maioria do pensamento americano.

Agora vamos para mais um desafio! Esse será curto, somente 1 mês.

bj para todos,

Bia Vilela

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Funk?

Um momento eu paro. Paro para repensar os meus caminhos e minha vida.

Mais uma vez me sinto sozinha, desarmada, sem um chão ao qual eu possa me indentificar.

Mais uma vez foi simples. Sinto que nada que eu digo ou faço seja algo que me deixe feliz.

Vi a pobreza de frente. Em Moçambique era bem simples para nós DIs, aqui é um país que as pessoas morrem e ninguém liga, somente mais um.

Eu aprendi um pouco nesses altos dos meus 25 anos. Aprendi que sem um diploma poucas pessoas te dão um mínimo de valor. Mas também aprendi que os meus professores ou são mais estúpidos do que quem não tem acesso a educação ou são iguais. Mas de uma forma distinta, se é que vocês me entendem.

Aprendi também que não importa a cor da água, o importante é bebê-la se houver e trabalhar para limpá-la. Senão a morte será rápida.

Aprendi que quanto menos nós temos na carteira, mais somos pessoas unidas e fortes.

Aprendi também que sou uma estúpida no trato com as pessoas. Não tenho paciência com ninguém que não veja o mundo da mesma forma que eu. Estou trabalhando essa parte.

Aprendi que uma cobra te pica se vc não fizer barulho.

Aprendi que um coqueiro morre se você não cuidar. Mas se você cuida, se há um tempo para ele viver.

Como Los Hermanos cantam: Todo o carnaval tem o seu fim.

E como eu penso: todo o fim é um novo começo.

Smpre fui muito pré-conceituosa. Não gostava de funk, axé, jeitinho, quem não estudava. Hj sou isso tudo. Respiro toda a contestação que o funk tem, mesmo quando muitos acham que é pornográfico, o funk demonstra a voz de quem está cansado de trabalhar pesado de segunda a sábado, trânsito, chefe desrespeitoso, pessoas soberbas, que expõe no que é mais prazeroso a música. Não os condeno, penso assim também. Se me dão dois limões, como querem que eu faça um suco de laranja? Se não houver prazer no que escutamos, não há motivo para se viver.

O Axé sempre foi mais pornográfico que tudo. Mas muito além disso é uma musicalidade única de brasil e áfrica. Modificada com o seu passar dos anos, quem aqui que está lendo esse post até o fim já não mudou desde que nasceu? Quem aqui achou e desachou várias coisas durante a vida? Então como podemos condenar uma música pq não tem a letra desejada? Pq não falar que paz, carnaval e futebol não mata, não engorda e não faz mal? Mas podemos achar lindo "com que roupa eu vou para o samba que você me convidou"?

Nesse meio termo cá estou eu. No meio disso tudo. Numa dúvida cruel? Será que só damos valor quando perdemos? Será que tudo que é bom precisa ser cultuado como uma imagem? Assim são os pintores, assim está na música tb.

O que é popular? Popular não seria expressão de um povo? Pode ser só um brainstorming, mas estou errada? Pq então sempre condenamos a expressão do povo como baixo? Estúpido? Enquanto tocamos nos nossos laptops músicas de Lady Gaga, Fergie, Chris Brown? Ou então damos valor quando Adriana Calcanhoto canta Buchecha, mas se o Buchecha canta não passa mais de um estúpido cantor do RJ que não sabe nem falar o português direito.

As vezes não entendo como não conseguimos pensar que nem todos são iguais a nós. Eu vim de uma família que sempre apoiou meu estudo e uma das coisas mais tristes para minha mãe saber que eu escuto todas as músicas q são expressão popular. Mas o pq a MPB tb não é funk? Não é o axé? Não sei. Alguém pode me ajudar?

"Funk é cultura e não confusão" Entendo que o conceito de cultura pode ser esse: Sintetizando simboliza tudo o que é aprendido e partilhado pelos indivíduos de um determinado grupo e que confere uma identidade dentro do seu grupo que pertença.", então pq é tão engraçado quando um cantor de funk fala isso? E eles ainda querem mostrar para a sociedade, essa tal sociedade que o exclui e o marginaliza, que o que ele canta e escuta é cultura, não é nada disso que a TV e os jornais, embriagados de pessoas com diplomas demais e sabedoria de menos, dizem.

As vezes as pessoas não tem noção do que é preconceito. Desde o momento que eu saí do Brasil, vivi isso na pele. Teve épocas que preferia ficar no meu quarto, na minha música, pq assim eu conseguia me livrar das piadas idiotas de que carioca não faz nada, não trabalha, que o meu sotaque é engraçado, enfim, coisas que eu via muito como os nordestinos sofrem no RJ e agora era eu a vítima. Quem está lendo pode achar engraçado, sofrido de meias verdades isso tudo, mas a grande realidade é essa. Em Moçambique o pior preconceito era de ser branca. Nos EUA o pior preconceito é por eu ser latina. Foi foda para mim ver uma pernambucana chorar relembrando o preconceito que ela sofreu aqui numa escola de voluntário com outro brasileiro. Ser nordestino não é fácil. Descobri que ser do RJ tb não (pq EU NÃO SOU CARIOCA! rs). E descobri que todo preconceito é estúpido, ignorante, absurdo.

Se vc fala porlta ou porrrta, isso é a sua cultura, a sua vida, aonde vc nasceu e viveu. Vc não é melhor ou pior que ninguém. Se você fala mal ou male qual o problema? Somos todos do mesmo planeta. Não importa se vc é brasileiro ou moçambicano, se é preto ou branco. Só importa o preto e o branco para uma coisa: vestir o manto alvinegro do meu fogão para sermos campeões! rs

Se vc gosta de mpb, clássico, hip-hop ou qualquer outra coisa, a escolha é sua. Vc não tem o ouvido mais apurado só pq vc escuta clássico. No final, o msm bicho q há de te comer, irá comer o funkeiro! Vamos celebrar a igualdade!! E celebrar que todos tem espaço mesmo não sendo o que nós aprovamos ou gostamos!

Eu amo se casar é male. Uma música ultra popular em Moçambique que os DIs muitos não gostavam... rs... é muito popular... he he he

Foi legal ver um romeno que não falava praticamente nada de português sair de Moçambique cantando músicas do Leandro e Leonardo melhor do que eu! rs... eu não gosto dessas músicas, mas elas são super populares em Moçambique... as vezes acho que é mais do que no "meu" Brasil.

Esse post é mais um momento TPB que vivo... tensão pré-brasil. Não é endereçado a ninguém específico. É endereçado aos orkuts que venho acessando e aos facebooks que nada vejo de interessante além de brindes a estupidez da classe-média brasileira...

To chegando no Brasil. Vou postar sobre a viagem que irei fazer... caminhos para mocambique e brasil? huuuuuuuummm!! rs rs rs

Não reli o post... foi mais um momento que eu tive, botei o funk pra rolar aqui e vi os brasileiros passando e deixando alguma opiniao no ar... entao saiu essa salada louca q vcs leram... desculpem!!!

bj bj bj

terça-feira, 23 de março de 2010

Uma lembranca


A vida na escola dos EUA nao eh uma perda de tempo conforme eu pensava. O contato com outros voluntarios, sejam eles inspirados ou nao e o debate inspira a continuar algo que pode somente ficar na lembranca.
Hoje estavamos vendo CNN Heroes.
1st- Eu odeio CNN. Todos sabem o quao tendencialista essa emissora eh.
2nd- Eu detesto essa cultura, que nao esta ligada a uma limite geografica, de uma eterna busca de herois.
Mas objetivamente esse programa trata de pessoas ao redor do mundo que fazem algo de bom para melhora-lo. No episodio que assistimos, numa parte dele fala de um casal que vive no Congo e a ONG deles trata de reparar e conseguir novas ambulancias para areas rurais. So quem viveu numa area rural consegue entender o peso que essa acao tem. Consegue entender o pq eu sai de la chorando ao relembrar meus 6 meses em Mozambique.

Informacao? By Leonardo Picarelli

Todos pensam que ver uma crianca suja, sem roupa, uma senhora de 70 anos sem sapatos, a pobreza urbana, a ausencia de diversidade de comida, que tudo isso eh a pior coisa do mundo. Eh a pior experiencia. Mas nao foi. Hoje eu relembrei uma manha que tive em Macuse. Talvez foi a coisa mais dolorosa que eu vivenciei na Africa.

Estava eu e Elis matabichando (tomando café no nosso belo “brasileiro”) quando escuto uma cancao. Uma voz de uma senhora e um coro acompanhando. Estavam cantando em chuabo, lingua local. Para mim soava como uma cancao triste e bonita. Os mocambicanos adoram cancoes tristes. Olhei pela minha varanda e na frente, com uma senhora a ampara-la enxerguei a cantor principal. Era um cortejo. Olhei para outra direcao e vi uma “tabua” que poderia ser algo como maca e um pano amarelado por cima. Valdez, um local que trabalha na casa dos DIs chegou na varanda. Antes de perguntar ele ja explicou: “e uma cancao de choro. A mae esta a cantar que sua filha morreu.”. Foi um choque. Malaria. Na Africa e muito comum maes enterrarem filhos. No meu mundo nao. A cancao era o choro. Tradicao local. Eles iam atravessar o rio num pequeno bote ou digamos barco, para enterrar aquela jovem que para nos, no mundo real, e so mais uma para as estatisticas, isso se as estatisticas chegarem ate Macuse.

Duas vezes fui ao hospital. Duas vezes fui fazer o teste da malaria. Duas vezes eu usei toda a minha influencia de “branca” para poder sair dali o quanto antes. O hospital esta sendo ampliado mas enquanto eu estava la aquele lugar era pior do que tinha visto em filmes. Era real. Paredes escritas com frases de odio ao colonizador. Tristeza. Na segunda vez que la estive vi a Elis com um olhar desaprovador por querer ser atendida o quanto antes para sair dali. A doenca nos torna mesquinhos e individualistas. Medo. Medo de sair dali com alguma doenca. Queria fugir. No Brasil ja tinha fugido uma vez do hospital. Ali era facil fugir, mas o medo da malaria me fazia permanecer.
Entrei quase na frente. Fui atendida. Fiz o teste, fui embora. Tentei explicar para Elis o inexplicavel. Eu trabalhava com a educacao, nao com a saude. Hoje relembro aquela mae cantando o seu choro. Anunciando a morte da sua filha. Relembro alguns doentes que vi sendo carregados em cima de uma Madeira como se fosse maca. Lembor aquele leito unico de hospital com um cheiro desagradavel, 3 pessoas internadas, sujeira, do branco passou a amarelo e das roupas dos tecnicos pingos de sangues eternos (em toda a regiao de Namacurra, que inclui Macuse, sao mais de 200 mil habitantes e somente ha um medico). Se sobreviveram foi puramente sorte. Lembro de uma crianca brincando com seringa usada.

Fui mesquinha, individualista. Vendo dezenas de maes no hospital com os seus filhos, mesmo nao estando na mesma fila de atendimento, nao conseguiria esperar para ser atendida.

Uma cama do hospital. by Leonardo Picarelli

Vejo voluntaries com um espirito de ordem na desrodem, mas quando a realidade se depara e olha nos nossos olhos as coisas mudam. Quando a mais simples doenca se apresenta e o medo que assola a nos. meros mortais conhecedores das desgracas humanas via tv e internet. Desesperamos.

Chorei ao relembrar. Chorei ao escrever. Quando estamos inseridos nessa realidade nos acostumamos, mas quando voltamos ao mundo desenvolvido nos desesperamos.

O hospital de Macuse esta sendo ampliado e reformado. Espero que la consigam aparelhos que realmente diagnostiquem a malaria, doenca que mata mais que qualquer outra em Macuse. Espero que os leitos sejam pelo menos algo digno.

Desculpem nao postar a continuidade dos meus ultimos posts, essa lembranca falou mais alto hoje, que tive como curso da manha falando sobre a Africa. Nao me lembro se ja comentei esse fato aqui no blog. Os Caminhos para Mocambique nao sao feitos so de praia e agua quente.

Esse post foi escrito na quarta-feira passada. Ontem conversei com um provavel voluntario que trabalha como palhaco nos hospitais. Um trabalho maravilhoso. Senti mal por ter tido essa attitude na Africa. Nao sou perfeita, sou ser humano.

Paz,
Bia Vilela

domingo, 7 de março de 2010

Como o Brasil mudou sua postura?

Nao e dificil entender como nos brasileiros muitas vezes achamos que o nosso païs ë o melhor lugar do mundo, feito de pessoas boas, de uma polïtica externa de eterna paz.

Ficamos inebriados por tal conceito que näo percebemos que por tras disse, hä a grande vontade do Brasil se tornar um novo EUA.

Estamos numa louca busca para uma cadeira no conselho de seguranca da ONU. Uma cadeira fixa. Com isso, saimos do status BRIC de melhores propensoes futuras e entramos para o real jogo dos paises grandes. Tenho tatuado no meu pe direito "Patria Amada Brasil", amo a minha patria, mas somente mudamos algo quando somos criticos de perceber que o Brasil nesse momento esta numa louca busca de mostrar que tem dinheiro e poder. Sofremos muito com as pressoes externas, inflacao e dividas. Quando conseguimos respirar, ao inves de buscarmos realmente ajudar os outros paises, tudo que fazemos eh com um certo interesse. No texto abaixo que expus, durante o debate na One World University, em Mocambique, debatemos como os paises se vestem de bonzinhos e falam que tao ajudando Africa, Haiti ou o que seja, mas Mocambique e o retrato do pais que desculpe a expressao forte "prostituta". Prostituta porque se vende por pouco. O pais nao tem uma estrada que conduza de norte a sul com seguranca, nao tem industria de base, seu turismo esta sendo gradualmente tomado por estrangeiros (como o nordeste brasileiro) e mesmo que o pais queira explorar o turismo, nao consegue fazer nem transporte publico e nem estradas para chegar ate as melhores praias. Mas dinheiro ha. Na mesma proporcao que ha corrupcao. Uma corrupcao que assola o pais de norte a sul, que faz pessoas ainda morrerem de Colera e doencas ultrapassadas ha muito tempo por paises pobres, como o caso do Brasil ha 20 anos atras.

Queria ter orgulho de estampar que o meu pais eh feito 100% de pessoas e atitudes boas. Nao eh. E essa frenetica busca por poder vai fazer com que nos brasileiros sejamos identicos aos americanos. Cegos por tanta mentira que vemos e ouvimos nos meios de comunicacao.

Segue mais um texto pra apreciarem. Esse foi do jornal O GLobo de hoje.



Investigado por corrupção nos EUA, ditador da Guiné Equatorial negocia cobertura triplex em Ipanema

RIO - Avenida Vieira Souto, 206. Este será o endereço da família Obiang no Rio, se concretizada a compra de um apartamento triplex em prédio de cinco andares projetado por Oscar Niemeyer há meio século: são dois mil metros quadrados de área útil, com rampa entre a sala de 720 metros e o pátio da cobertura, em ângulo com o magnético mar de Ipanema.

Os Obiang costumam se destacar nas listas das famílias mais ricas do planeta, como as da revista "Forbes". Há três décadas detêm a hegemonia do poder e dos negócios na Guiné Equatorial, país do tamanho de Alagoas, onde 520 mil pessoas vivem em cima de um oceano de petróleo espraiado pelo Golfo da Guiné -- o braço do Atlântico que invade a África, na região conhecida como coração geográfico da Terra, porque ali se cruzam as linhas do Equador (0º de latitude) e do meridiano de Greenwich (0º de longitude).

O negócio imobiliário no Rio, estimado em US$ 10 milhões, é apenas reflexo das prósperas relações do clã Obiang com o governo, a Petrobras e empreiteiras brasileiras, como mostra a reportagem de José Casado na edição do O GLOBO deste domingo. A Petrobras tem 50% de um campo petrolífero em exploração. Já a Andrade Gutierrez - dona do apartamento em Ipanema - soma US$ 500 milhões em contratos. Outra construtora mineira, a ARG, obtém naquele país 40% da sua receita anual (US$ 155 milhões em 2008).

O comércio entre o Brasil e a Guiné Equatorial aumentou cem vezes nos últimos seis anos: saltou de US$ 3 milhões em 2003 para US$ 300 milhões em 2009. Nos últimos seis meses, dois ministros brasileiros (o chanceler Celso Amorim e Miguel Jorge, da Indústria e Comércio) viajaram à capital, Malabo, para negociar uma dezena de novos acordos.

Governantes ricos, população miserável

A Guiné Equatorial é um fenômeno africano. Por causa do bilhão de barris de petróleo extraído anualmente, exibe uma das maiores rendas per capita do mundo (US$ 28 mil por habitante) - quase quatro vezes maior que a do Brasil, superior à de Israel e Coreia do Sul, informa o Banco Mundial. Essa riqueza contrasta com o real padrão de vida da população: quase oito de cada dez habitantes sobrevivem com renda pouco acima de US$ 1 por dia, apenas 44% da população têm acesso à água potável, e a desnutrição impera entre 39% das crianças com menos de 5 anos.

Há quatro semanas, o Senado dos EUA encerrou uma investigação sobre o destino da riqueza da Guiné Equatorial. No relatório final, com 330 páginas, o clã Obiang emerge como uma vigorosa cleptocracia, elevada à categoria de "caso de estudo" sobre práticas de corrupção governamental.


Bem galera, eh isso por hj.

Ainda irei falar sobre como foi o debate, mas essa reportagem falou mais alto.

Nos vemos no brasil daqui a nada!!!

bjaoOoO


Bia Vilela

quarta-feira, 3 de março de 2010

"Parem de ajudar a África!"

Um artigo pra vcs pensarem... e deixarem coments... foi tema de um debate que promovi na One World University - Mozambique com os alunos do curso de Fight Poverty. Vocês nao imaginam como foi o debate... falo na sexta-feira, tempo o suficiente para vocês analisarem...




Pelo amor de Deus, parem de ajudar a África!", afirma economista do Quênia

DER SPIEGEL

06.07.2005
Especialista explica que a ajuda internacional alimenta a corrupção e impede que a economia se desenvolva, o que destrói a produção agrícola e causa desemprego, mais miséria e mais dependência



Thilo Thielke
Em Hamburgo

O especialista em economia James Shikwati, 35, do Quênia, diz que a ajuda à África é mais prejudicial que benéfica. O entusiástico defensor da globalização falou com a SPIEGEL sobre os efeitos desastrosos da política de desenvolvimento ocidental na África, sobre governantes corruptos e a tendência a exagerar o problema da Aids.

DER SPIEGEL - Senhor Shikwati, a cúpula do G8 em Gleneagles deverá aumentar a ajuda ao desenvolvimento da África...

James Shikwati - Pelo amor de Deus, parem com isso!

DS - Parar? Os países industrializados do Ocidente querem eliminar a fome e a pobreza.

Shikwati - Essas intenções estão prejudicando nosso continente nos últimos 40 anos. Se os países industrializados realmente querem ajudar os africanos, deveriam finalmente cancelar essa terrível ajuda. Os países que receberam mais ajuda ao desenvolvimento também são os que estão em pior situação. Apesar dos bilhões que foram despejados na África, o continente continua pobre.

DS - O senhor tem uma explicação para esse paradoxo?

Shikwati - Burocracias enormes são financiadas (com o dinheiro da ajuda), a corrupção e a complacência são promovidas, os africanos aprendem a ser mendigos, e não independentes. Além disso, a ajuda ao desenvolvimento enfraquece os mercados locais em toda parte e mina o espírito empreendedor de que tanto precisamos. Por mais absurdo que possa parecer, a ajuda ao desenvolvimento é uma das causas dos problemas da África. Se o Ocidente cancelasse esses pagamentos, os africanos comuns nem sequer perceberiam. Somente os funcionários públicos seriam duramente atingidos. E é por isso que eles afirmam que o mundo pararia de girar sem essa ajuda ao desenvolvimento.

DS - Mesmo em um país como o Quênia pessoas morrem de fome todos os anos. Alguém precisa ajudá-las.

Shikwati - Mas são os próprios quenianos quem deveria ajudar essas pessoas. Quando há uma seca em uma região do Quênia, nossos políticos corruptos imediatamente pedem mais ajuda. O pedido chega ao Programa Mundial de Alimentação da ONU --que é uma agência maciça de "apparatchiks" que estão na situação absurda de, por um lado, dedicar-se à luta contra a fome, e por outro enfrentar o desemprego onde a fome é eliminada. É muito natural que eles aceitem de bom grado o pedido de mais ajuda. E não é raro que peçam um pouco mais de dinheiro do que o governo africano solicitou originalmente. Então eles enviam esse pedido a seu quartel-general, e em pouco tempo milhares de toneladas de milho são embarcadas para a África...

DS - Milho que vem predominantemente de agricultores europeus e americanos altamente subsidiados...

Shikwati - ... e em algum momento esse milho acaba no porto de Mombasa. Uma parte do milho em geral vai diretamente para as mãos de políticos inescrupulosos, que então o distribuem em sua própria tribo para ajudar sua próxima campanha eleitoral. Outra parte da carga termina no mercado negro, onde o milho é vendido a preços extremamente baixos. Os agricultores locais também podem guardar seus arados; ninguém consegue concorrer com o programa de alimentação da ONU. E como os agricultores cedem diante dessa pressão o Quênia não terá reservas a que recorrer se houver uma fome no próximo ano. É um ciclo simples mas fatal.

DS - Se o Programa Mundial de Alimentação não fizesse nada, as pessoas morreriam de fome.

Shikwati - Eu não acredito nisso. Nesse caso, os quenianos, para variar, seriam obrigados a iniciar relações comerciais com Uganda ou Tanzânia, e comprar alimento deles. Esse tipo de comércio é vital para a África. Ele nos obrigaria a melhorar nossa infra-estrutura, enquanto tornaria mais permeáveis as fronteiras nacionais --traçadas pelos europeus, aliás. Também nos obrigaria a estabelecer leis favorecendo a economia de mercado.

DS - A África seria realmente capaz de solucionar esses problemas por conta própria?

Shikwati - É claro. A fome não deveria ser um problema na maioria dos países ao sul do Saara. Além disso, existem vastos recursos naturais: petróleo, ouro, diamantes. A África é sempre retratada como um continente de sofrimento, mas a maior parte dos números é enormemente exagerada. Nos países industrializados existe a sensação de que a África naufragaria sem a ajuda ao desenvolvimento. Mas, acredite-me, a África já existia antes de vocês europeus aparecerem. E não fizemos tudo isso com pobreza.

DS - Mas naquela época não existia a Aids.

Shikwati - Se acreditássemos em todos os relatórios horripilantes, todos os quenianos deveriam estar mortos hoje. Mas agora os testes estão sendo realizados em toda parte, e acontece que os números foram enormemente exagerados. Não são 3 milhões de quenianos que estão infectados. De repente eram apenas cerca de um milhão. A malária é um problema equivalente, mas as pessoas raramente falam disso.

DS - E por quê?

Shikwati - A Aids é um grande negócio, talvez o maior negócio da África. Não há nada capaz de gerar tanto dinheiro de ajuda quanto números chocantes sobre a Aids. A Aids é uma doença política aqui, e deveríamos ser muito céticos.

DS - Os americanos e europeus têm fundos congelados já prometidos para o Quênia. O país é corrupto demais, segundo eles.

Shikwati - Temo, porém, que esse dinheiro ainda será transferido em breve. Afinal, ele tem de ir para algum lugar. Infelizmente, a necessidade devastadora dos europeus de fazer o bem não pode mais ser contida pela razão. Não faz qualquer sentido que logo depois da eleição do novo governo queniano --uma mudança de liderança que pôs fim à ditadura de Daniel Arap Mois--, de repente as torneiras se abriram e o dinheiro verteu para o país.

DS - Mas essa ajuda geralmente se destina a objetivos específicos.

Shikwati - Isso não muda nada. Milhões de dólares destinados ao combate à Aids ainda estão guardados em contas bancárias no Quênia e não foram gastos. Nossos políticos ficaram repletos de dinheiro, e tentam desviar o máximo possível. O falecido tirano da República Centro Africana, Jean Bedel Bokassa, resumiu cinicamente tudo isso dizendo: "O governo francês paga por tudo em nosso país. Nós pedimos dinheiro aos franceses, o recebemos e então o gastamos".

DS - No Ocidente há muitos cidadãos compassivos que querem ajudar a África. Todo ano eles doam dinheiro e mandam roupas usadas em sacolas...

Shikwati - ... e então inundam nossos mercados com essas coisas. Nós podemos comprar barato essas roupas doadas nos chamados mercados Mitumba. Há alemães que gastam alguns dólares para comprar agasalhos usados do Bayern Munich ou do Werder Bremen. Em outras palavras, roupas que algum garoto alemão mandou para a África por uma boa causa. Depois de comprar esses agasalhos, eles os leiloam na eBay e os mandam de volta à Alemanha -- pelo triplo do preço. Isso é loucura!

DS - ... e esperamos que seja uma exceção.

Shikwati - Por que recebemos essas montanhas de roupas? Ninguém passa frio aqui. Em vez disso, nossos costureiros perdem seu ganha-pão. Eles estão na mesma situação que nossos agricultores. Ninguém no mundo de baixos salários da África pode ser eficiente o bastante para acompanhar o ritmo de produtos doados. Em 1997 havia 137 mil trabalhadores empregados na indústria têxtil da Nigéria. Em 2003 o número tinha caído para 57 mil. Os resultados são iguais em todas as outras regiões onde o excesso de ajuda e os frágeis mercados africanos entram em colisão.

DS - Depois da Segunda Guerra Mundial a Alemanha só conseguiu se reerguer porque os americanos despejaram dinheiro no país através do Plano Marshall. Isso não se qualificaria como uma ajuda ao desenvolvimento bem-sucedida?

Shikwati - No caso da Alemanha, somente a infra-estrutura destruída tinha de ser reparada. Apesar da crise econômica da República de Weimar, a Alemanha era um país altamente industrializado antes da guerra. Os prejuízos criados pelo tsunami na Tailândia também podem ser consertados com um pouco de dinheiro e alguma ajuda à reconstrução. A África, porém, precisa dar os primeiros passos na modernidade por conta própria. Deve haver uma mudança de mentalidade. Temos de parar de nos considerar mendigos. Hoje em dia os africanos só se vêem como vítimas. Por outro lado, ninguém pode realmente imaginar um africano como um homem de negócios. Para mudar a situação atual, seria útil se as organizações de ajuda saíssem.

DS - Se fizessem isso, muitos empregos seriam perdidos imediatamente.

Shikwati - Empregos que foram criados artificialmente, para começar, e que distorcem a realidade. Os empregos nas organizações estrangeiras de ajuda são muito apreciados, é claro, e elas podem ser muito seletivas na escolha das melhores pessoas. Quando uma organização de ajuda precisa de um motorista, dezenas de pessoas se candidatam. E como é inaceitável que o motorista só fale sua língua tribal, o candidato também deve falar inglês fluentemente --e, de preferência, ter boas maneiras. Então você acaba com um bioquímico africano dirigindo o carro de um funcionário da ajuda, distribuindo comida européia e forçando os agricultores locais a deixar seu trabalho. É simplesmente loucura!

DS - O governo alemão se orgulha exatamente de monitorar os receptores de suas verbas.

Shikwati - E qual é o resultado? Um desastre. O governo alemão jogou dinheiro diretamente para o presidente de Ruanda, Paul Kagame, um homem que tem na consciência a morte de um milhão de pessoas --que seu exército matou no país vizinho, o Congo.

DS - O que os alemães deveriam fazer?

Shikwati - Se eles realmente querem combater a pobreza, deveriam parar totalmente a ajuda ao desenvolvimento e dar à África a oportunidade de garantir sua sobrevivência. Atualmente a África é como uma criança que chora imediatamente para que a babá venha quando há algo errado. A África deveria se erguer sobre os próprios pés.


http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2005/07/pelo_amor_de_de.html

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Voltando para a "civilizacao"

Bem, depois do ultimo post, tive meus dias intensos na OWU. Primeiro pelo fato de la ter ser meu ultimo lugar em mocambique ao qual trabalhei. Segundo pela festa maravilhosa q eles fizeram pra mim e para a Elis no nosso ultimo dia la. Vi uma mocambicana sambando melhor q muitas brasileiras (ou a maior parte), vi salsa, vi comida... enfim, vi tudo q um mocambicano qdo realmente esta agradecido faz... Foi intenso as minhas duas semanas la, mas chorei qdo despedi daqueles alunos. Estou certa q eles terao um belo futuro pela frente.

Apos isso, minha unica vontade era comer em algum lugar q era parecido com o Brasa. Gente, nao tenham duvidas, as duas colonias brasileiras q conheci, ambas tem o gosto parecido, claro q la carece de muita coisa e infomacao, mas basico q todo brasileiro gosta, tem la... fui atras disso e consegui.

Meu ultimo dia em mocambique talvez tenha sido o dia mais engracado, mais real e mais motivante. As 19 e 30 Elis disse q tinhamos q sair para algum lugar q nao fosse a machava, mas nessa hora, chapas (transporte publico) sao dificeis. Saimos de la sabendo q tinhamos q pedir carona, ate 2 romenos e 1 lituana querer vir conosco. Pois bem, conseguimos uma chapa e chegamos no centro, ou baixa. La procuramos algo para fazer, ja q ninguem tinha ideia. Eu tinha e andei. 2 policiais vieram, algo normal em mocambique qdo veem branco, pediram passaporte, para o meu espanto, os romenos nao levaram... era o meu ultimo dia... nunca fui taooo simpatica e cheia de motivos com os policas.... nos liberaram sem dar nenhum centavo.

Apos comer, fomos para um bar q ja tinham nos recomendado. Era um lugar beeeem africano com bons musicos. Tava precisando disso, ja q eu nunca vi. Ao chegar la, descobrimos q era Karaoke noite. Entrei. La na frente, mesa posta, que 4 horas depois fui descobri q era ed uma cantora famosa mocambicana... eu nao sei de nada... nao tinha tv!

Curti muito ate o momento q senti q na terca-feira de carnaval precisava... axe ou samba! Procurei e axei poeira da ivete. Sabia q eles gostavam muito la, entao cantei, com uma banda maravilh0sa... puz todos e tudo pra dancar... dei autografo, vieram gente na minha mesa ocmentar a minha performance, e ainda ao terminar de cantar, bati na mao de todos q estavam na frente, como rock star, q estavam gostando... eram todas, inclusive a tal grande cantora mocambicana...

As vezes perdermos tanto tempo tentando achar a pobreza, que a pobreza, de espirito, esta bem ao nosso lado...

Mocambique me mudou... nao sei ao certo aonde vou, aonde estou... to nos eua, mas queria estar em algum lugar q nao sei...

Uma experiencia unica, que me fez crescer como pessoa...

Sao taaaantas coisas pra falar, mas paro por aqui antes de vcs dormirem!

OBRIGADA POR TUDO!

APESAR DO SOLO AMERICANO, OS DIAS CONTINUAM E A BATALHA AINDA TA ACESA!!!

Tudo de bom sempre!

Bia

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Todo carnaval tem o seu fim, mas todo fim é um novo começo!!!

Então tá né gente!

Preciso postar pela última vez daqui de Moçambique. Claro que o blog não irá terminar, talvez agora que eu não esteja tanto na correria, consiga ser uma pessoa séria com esse meu menino e atualizá-lo em dias certos. Agora ele vai tomar mais um rumo de ajudar as pessoas a conhecerem um pouco essa Moçambique que tanto me inspirou. Também o blog ajudará aquela galera que quer fazer turismo por lá, com dicas e tudo. E claro. como todos bem me conhecem, vamos falar dessa política moçambicana que tem muito a ser comentada.

Mas, daqui levo amigos.

Amigos DIs, como a Elis, que sempre esteve ao meu lado nos momentos difíceis e principalmente nos momentos alegres. Obrigada dona Moça, por termos quase terminados os nossos dias aqui sem jorrarmos um pingo de sangue (olha que quase isso aconteceu... coisa de irmãs...). Mas tá bom né Elis? Precisamos ver novas pessoas, matabichar, almoçar, trabalhar, jantar, findis, dormir, ou seja, praticamente 24 horas juntas nesses seis meses, já deu né? Mega não deu!! Te vejo em São Paulo!! Vale R$ 400,00, não esqueça.

Amigos moçambicanos que são muitos, tantos que não ouso escrever o nome de ninguém... tá bom, vou escrever o do Rush, que quando eu tava passando quase fome, saiu de Quelimane e trouxe comida pra nós. Tb vou falar do Franklim, gente fina que comanda super bem o TCE de Macuse. O Isaias, cara gente fina que consegui fazer uma boa parceria de trabalho, a Celia, o Vidal e a senhora Bloco-queimado pelos momentos de risos, as Mamás que sempre estavam aptas para me ajudar, toda a galera do meu projeto. Meus amiguinhos lindos que fizeram dos meus dias uma eterna brincadeira... ai ai ai... meus alunos, que sempre estavam lá me gritando "BELEZA!!", aos meus alunos de informática, por ter feito meus dias um desafio maravilhoso.
Sem esquecer, claro, dos COMBATENTES DA POBREZA, obrigada pela despedida linda e maravilhosa, obrigada por citar algumas frases das minhas aulas, percebi que vcs estavam prestando atenção nela! Obrigada, obrigada msm!!! Ah, obrigada por terem dançado salsa, street dance e principalmente É o Tchan!! Foi lindooOOoOOoo!!

Aos amigos dos bares da vida, aqueles momentos que sentamos pra comer e sempre estavam la querendo conversar com as brasileiras. Aos frangos desses bares que sempre foram excelentes!! As dozes de batata frita, mas principalmente aos amigos que pagavam a coca e a água! OooOo gente pra pagar as coisas que nem podemos negar pq senão é desfeita!! ha ha ha

Agradeço aos ventos de Macuse, ventos que sempre fizeram da nossa casa a mais cobiçada por todos. Ventos que fizeram eu dormir, e durante a madrugada no calor, quando esses ventos surgiam, sonhava como se fosse vento vindo da Áustria! ahuahauha... vai saber o pq disso!! Sonho é sonho!!

Mas gente, acima de tudo, agradeço as boléias, as eternas caronas que nos levavam pra baixo e pra cima qdo saiamos da nossa querida Zambézia.

Tb, sem deixar de esquecer, obrigada os verdadeiros amigos, que mesmo eu fazendo 17 meses fora de casa, ainda continuam me procurando, querendo saber da minha vida, e fazendo de poucas noites que tenho no computador, msn, fazer como se eu tivesse ao lado de vcs.

Obrigada a nova família que formei, a família CCTG e DIs, sem vcs meus dias nao poderiam ser melhores!!

Família linda no Brasa! Segura que essa ovelha desgarrada chega a qualquer momento... ta chegando o dia que terei uma resposta sobre o meu futuro, quem sabe nao volto ja no mes que vem? Tudo depende to tão temido e idiota visto de permanencia nos EUA.


Galera, o BLOG NÃO TERMINA! Ainda tenho historias e estórias pra contar, Moçambique tem muito a ser explorado e farei desse blog um meio pra que nós brasileiros passamos a conhecer um pouco mais dessa terra aqui que tanto ama esse nosso Brasil!!!!

Agora o vento sopra forte aqui em Changalane. Perdi minha boléia pra ir pra Maputo hj de manhã, espero que não chova, pq se não conseguir sair desse mato que fica a OWU, vai ficar difícil eu conseguir fazer tudo antes da viagem de volta aos EUA. As vezes cansa essa vida de voluntário que não pode ter nada, só pedir e esperar... espero então que o tio apareça pra eu poder chegar em Maputo, conseguir comprar algumas coisinhas finais para a viagem, conseguir tb comer bem e igual ao Brasil antes de chegar nos EUA, pq lá além de ter comida ruim pra essa brasileira de raiz, ainda tá um frio dos cacetes!!

Beijos e mais beijos enviados daqui de Moçambique!!

Próxima parada? Quarta-feira inicio a viagem de volta aos EUA, chego lá na quinta-feira... 25 horas dentro de 3 aviões diferentes... espero que esse machibombo não quebre no caminho!! ahuahauhauah... brincadeira de mal gosto... nããããããããããããooo... Karlinha se lembra a primeira vez q entrei num avião e quase chorei de medo do treco cair!! he he he

Fui!!!

Saudades!! Agora do Brasil e inicia a de Moçambique!!

Bia Vilela

Coisos que aprendi em Moçambique

Estava com os meus botões, pensando sobre o blog, e descobri que ele tá pesado demais. Sempre to escrevendo coisas pesadas, mas pouco sobre a vidinha daqui que tive, o que eu aprendi, as coisas diferentes do meu brasilzão, apesar de compatilharmos a mesma língua. Então vamos lá né? Sempre que eu lembrar de algo novo, vou escrever aqui um pouquinho. Histórias e estórias que vivi ou escutei, diferenças de língua... vamo q vamo!

Bem, pra começar vou escrever um pouco das coisas que demorei um pouco pra entender quandoe escutava falando. As diferenças do português de cá pro daí do Brasil.

Gajo = cara
Mafioso = 171, malandro, bandido

"Aquele gajo é um mafioso"
"Aquele gajo é bonito!"

Matabicho = café-da-manhã
sumo = suco
refresco = refrigerante
grosso = bêbado
piri-piri = pimenta malagueta
sandes = sanduiche
vorse = linguiça
xima = angu com farinha de milho branca, porém feito mais consistente
matapa = folha de mandioca pilada com amendoim, coco e camarão
xima com matapa, comida típica em Moçambique

Oyê! = saudação pra qualquer coisa
"Moçambique Oyê!" "Macuse Oyê!"
leão feito = magia feita em certas regiões para matar alguém. O leão vem e come a pessoa!


mata Bia = Bia e Elis ou Bia e alguns alunos...
gorda = gorda (e toda hora me chamavam! pqp...)
muzubia = linda (q derrota, tb escutava isso de gente sem dente!)
Bia = panela
telemovel = celular

Bem, hj ficamos com essas informações... amanhã posto mais... he he he

Ixi, sem esquecer que o coiso aqui é como se fosse coisa, mas eles usam pra tudo. Se tu não sabe a palavra ou esqueceu, mete o coiso que tudo dá certo! ahuahauhau

bj bj bj

Um pé sem chão


Sabe aquele momento que você se encontra um pouco perdid0? É, talvez seja esse momento que eu esteja vivendo.


Compartilho agora a angústia ao qual me encontro, prestes a terminar meus dias aqui em Moçambique, estou pensando o que será o meu futuro. Muitas possibilidades, poucas soluções e muitos sonhos fazem esses meus dias se tornarem pesados.


Há 30 minutos atrás terminei minha aula de Política Internacional Atual para o curso de combatentes da pobreza aqui na universidade ao qual estou nos últimos 10 dias. Bem, foi uma aula muito boa, eu terminei pq tinha que terminar. Os alunos queriam mais e mais, e eu já tinha estourado o tempo em 26 minutos. Terminei com aquele gostinho: "pq não voltar a faculdade, terminar a graduação e ser professora?". Não que eu não vá me formar, mas isso era um plano que iria adiar por pelo menos 2 ou 3 anos. Mas bateu agora, nesse momento, parar essa minha vida de querer ver o mundo, ganhar graduação, estudar e aliar isso a essa minha vida de voluntária. Não sei.


Imagine que você viveu a vida toda num bairro. Nunca saiu dele, pois lá tinha tudo que você precisava. Mas, um dia, por azar do destino, você se perdeu e caiu no bairro vizinho. Vc viu um mundo novo. Vc acha que ficar dentro do seu bairro agora, com um novo bairro desconhecido a ser explorado é possível? Bem, esse é o meu atual "Ser ou não ser, eis a questão."


Não me desfazendo do mundo dos intercambistas e dos viajantes da europa, quem sou eu pra falar mal, mas essa vida de conhecer a realidade do país crua, como foi a dos EUA, de estar em bairros totalmente pobres e bem ricos, de vir pra cá, conhecer tanto a área rural, como a área urbana, enfim, estar dentro da realidade do país me deixa com aquela sensação que se eu voltar pra faculdade, o máximo que poderei fazer é conhecer um país por um tempo pouco, num pacote da CVC ou num mochilão louco da vida por umas semaninhas. Nada como a experiência total e verdadeira que eu tive. De conversar com as pessoas, de conhecer a realidade dura e pura, seja de um país pobre, seja de um país rico, me leva a crer que nada traduz a realidade de um povo que ele mesmo. E o único canal para conhecer a realidade será os seus olhos. Livro, tv, jornais e revistas traduzem a foto, um momento como total realidade, não nos mostra os detalhes de uma sala de aula de criança de 7 anos, não nos mostra como o meio ao qual vive dá sentido a muitas coisas e situações.


"E agora José?, José para aonde?" Tudo isso traduz o meu sentimento de voltar ao Brasil ou não, ir para os EUA e ficar lá um tempo ou não, voltar para a África daqui há alguns meses ou não. E nisso tudo, o que vou fazer nesses lugares? Meu medo de voltar ao Brasil e voltar para a facul, é de matar uma das crianças mimadas do meu curso. Amo RI, mas conheço o povo de lá, a grande maioria vem de famílias com poder aquisitivo considerado e que acha que Malhação, Jornal Nacional, MTV, Globo News e CNN são as melhores coisas do mundo. Leem livros e acham que quanto mais leem, mais inteligentes são. Sabem de muitas teorias, mas ainda acreditam que Leis trabalhistas, mercado fechado para alguns setores, enfim, coisas que não sejam liberais, é idéia de gente estúpida. Mal sabem o que é África, mas tem toda a certeza que aqui tem um bando de pessoas sem futuro, um lugar para esquecer. Acham que a Europa e EUA é o centro da razão mundial... não são todos que pensam assim, óbvio, mas quando saí do meu ambiente acadêmico, estava no meio de um fogo cruzado que me via com poucos ao meu lado nesse meu pensamento social e humanista. Esses poucos ainda permanecem lendo o meu blog e conversando comigo. A maioria ou tem essa opinião, ou esperam ler algum livro que dê uma noção de qual lado vão ficar. Livros... ah os livros. Amo ler, mas cada vez mais tenho raiva dos livros que se mostram com a total razão.


Ficar nos EUA por um tempo estudando seria uma ótima. Todos sabem que é difícil para um brasileiro assalariado como eu ter o oportunidade de estudar por lá. Estando dentro do país fica bem fácil, mas, ainda assim é os EUA, terra de gente que acha que o Brasil fica na África e que Mozambique ainda é colônia de algum país europeu.


Voltar para África seria algo que mais me intriga e mais me motiva. Aqui tive dias ruins, ruins, ruins e bons. Sim, vc acha que viver no mato é fácil? Bonito e motivante, mas ter q beber água amarela, ter q comer arroz e feijão e batata doce, ter q economizar água no banho que é de caneca, ter q andar 45 minutos para comprar um pão, não ter nada além de mato, terra e lua nas sextas a noite, ce acha q é fácil? Desculpem mas os dias ruins superam os bons de certo. Claro q foi maravilhoso o meu trabalho, amo a comunidade e tudo, mas nao ter nada além dos seus pensamentos e os pensamentos da Elis pra trocar, pq nem TV nem Internet e nem um bom livro tinha, cansa... cansa e muito. Mas, com tudo isso, com tudo que passei aqui, e nesse meio, ouso citar o mês que não consegui dormir, com medo de entrarem na minha casa pelo fato de quase ter caído numa grande armadilha para um cara que confiei tentar fazer sexo comigo a força, com tudo isso, ainda penso em voltar para cá.


Aqui na África vc precisa entender o local. Hj ganhei um medo de homens, mas entendo que eles não são iguais aos nossos, ainda o fato de eu ser "branca", mexem muito com eles, então, sabendo como lidar e a quem pedir e aceitar ajuda, tudo isso faz com que hj eu me sinta mais a vontade aqui, já entenda o que fazer e como fazer, aonde ir e não ir, quem eu posso conversar ou não.


Aqui há muito trabalho. Tudo é novo. Tudo que trazemos é novo para eles. O simples é muito. Até minha parca inteligência é positiva aqui. Ainda lembro de um dos coordenadores do meu curso, a forma que ele me via, simplesmente pq qdo eu estudava, vivia no celular pq tinha tb q ajudar meus colegas no trabalho. Aqui o pouco que ele teimava em me testar e até me tirar pontos de uma prova pq com certeza achava q eu tinha colado, esse pouco é bem útil. Isso me motiva, me cativa. Não que eu queira ser o centro das atenções, mas simplesmente promover a vontade de eles buscarem por eles mesmos as respostas para os problemas dos países deles, conseguir ajuda pras crianças estudarem, abrir os olhos deles com novas formas de ver o mundo, enfim, tudo isso me deixa bem feliz. Mas, ainda há o grande porém: como viver sem amigos e família.


Bem, nesse interím, cá estou eu, na minha busca eterna do meu futuro. Sei que assim que chegar nos EUA, e rever os amigos que lá fiz, e principalmente rever a Carol, vai fazer eu repensar o meu futuro. Hj posso dizer que estou muito tentada em voltar pra cá o quanto antes, estudar RI aqui msm em Moçambique, mas, lá eu terei a certeza.


Tenho que voltar para os EUA pra dar cursos para os novos voluntários, chamamos de Camp Future, mas ainda estou pensando se realmente vale a pena eu perder dois meses da minha vida fazendo isso para muitos que não querem nem saber do meu trabalho, só querem reclamar da vida e cairam nessa de ser voluntários pq é a forma mais barata de conhecer o mundo. Até pq o fato de sair daqui sem saber ao certo o que irei fazer depois de tudo que eu vivi, desculpe, não vale a pena. Acho que no Brasil tem mais gente querendo saber do meu trabalho aqui e das minhas experiências do que lá. Chega ser engraçado eu ler as pessoas me pedindo para voltar pq querem que eu cozinhe algo q eles gostam, pq querem me rever, mas ainda não escutei nada sobre mostrar o meu trabalho lá, isso me desmotiva e muito. A ONG de uma forma geral, ajuda e muito, muita gente, mas o caminho dos voluntários é tortuoso, eles esquecem que querem vir para África ou outro país e só conseguem enxergar os problemas no caminho, não vejo muita gente que trabalha pela ONG tentando motivar os voluntários, querem que eles sejam grandinhos e parem de reclamar, não são humanos conosco, isso me desmotiva. Não vejo eles tb na busca de pessoas boas para trabalhar com eles, acho que eu nunca seria o perfil ideal de trabalhadora para eles (apesar de todos os voluntários serem convidados a continuar a trabalhar com eles), pois gosto de motivar, de olhar quando estamos errados, fazer mea culpa para achar soluções e todos ficarem felizes... essa sou eu. Posso falar um inglês porco, um português louco, um portunhol barato, mas minha essência fica bem clara para todos, e isso pesa muito. Como a música da Sandra de Sá e Gabriel o Pensador, "Eu não devo nada a ninguém, eu não sou do mal nem do bem, estou fazendo a minha estrada sem pedir carona", eu simplesmente quero tentar algo, e ver que mesmo eu não sendo um grande nome, consegui inspirar pessoas a serem. Ou simplesmente acharem a estrada certa para trilharem, sem pensar que sucesso e reconhecimento seja a principal coisa da vida, somente pensando que se plantarmos o bem, colheremos o bem, e que esse bem não quer dizer que temos que ser 100% calados e concordarmos com tudo que vemos. As vezes gritar, se estressar, ser aquela pessoazinha que fala algo totalmente diferente para todos pensarem, e que muitos pensam que é algo ruim, simplesmente é para as pessoas pararem de usar o senso comum como o caminho mais curto para a felicidade.


Díficil o post de hj. Difícil mesmo, pois estou falando de algo que é o meu eu, como eu vejo a vida. Meus tempos aqui me mudaram e muito. Minha essência é a mesma, mas mudei muito. Acho que não consigo mais aturar aquele patrão que foi posto no cargo pq é amigo de alguém, mas que olha os outros como se fossem um empregadinho qualquer. Acho que não consigo passar por um cara que acabou de furar o sinal numa avenida cheia de criança sem o perseguir e falar umas boas verdades na cara dele. Acho que não consigo ficar calada e seguir minha vida qdo eu ver alguém sendo roubado na rua. Acho que não consigo mais entrar na minha casa, cada vez mais trabalhar e fazer dela melhor, esquecendo que a minha volta, nesse mundo, muitos ainda morrem de fome, de ignorância, de Aids, de cólera, de caxumba, de malária, de diarréia... sem tentar fazer algo, pelo menos para alguns.


Sei que não posso mudar o mundo, mas se cada um contribuir um pouco, seja nas atitudes pessoais, seja com o seu tempo, esse mundo pode ser mudado. Não precisamos de políticos para vivermos na paz, precisamos que nós, que somos grande maioria, promover ela em cada atitude. A geração que está crescendo agora precisa de boas influências que esteja acima de qualquer TV.


Desculpe meu momento eu. Estou chorando por dentro. Ainda não sei que caminho escolher. O medo me assola. Mas, está no momento de decidir e será isso que vou fazer nesse mês que se iniciou. Sei que qualquer que seja o meu futuro, irei perder de um lado. Mas a balança principal é o coração e a felicidade, então, vamos atrás dela, pq o que queremos é que o sol esteja sempre brilhando na nossa janela!


Obrigada a todos que leem.


Bom Carnaval!


Pros brazucas e amigos q estao vindo para África - BOA SORTE E ENJOYEM cada momentinho!


Pra galera q está em fundraising pra vir pra cá - Cada alegria e tristeza vale a pena, e no final, vcs irão perceber que tudo faz parte de um aprendizado único da vida!


Se alguém se sentiu incomodado com minhas palavras de hj, peço desculpas sinceras.


Com todo o meu coração,


Bia Vilela

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Acabou?

Na varanda de casa, a alegria depois das compras



Depois de postar minhas ultimas informações sobre como vejo o mundo, como cada coisa me toca aqui estando longe de todos e as vezes se perguntando se fazer isso e o certo, cá estou eu de novo. A única e talvez mais grande diferença e que não mais estou em Macuse. Sai de la na semana passada e iniciei minha viagem de volta a capital de Moçambique, Maputo.







No mercado local vendendo minhas coisinhas e da Elis. Tudo pela escolinha.

Sai de la antes de completar meus seis meses em virtude que tenho meu período de investigacao. Essa investigacao decidi fazer na OWU, faculdade da ONG ao qual sou voluntária. Aqui irei dar aulas por duas semanas. O legal que irei falar de politica, motivacao e trabalho em equipe. Fora ensina-los um pouco sobre apresentacoes. Isso tudo eu fazia ai no Brasil, o que me deixa feliz por voltar a estar um pouco na minha realidade, depois de 1 ano e meio em outra realidade, se conectar de novo ao meu mundo me deixa feliz. O melhor e que será somente duas semanas. Tempo suficiente pra essas pequenas “ferias”.



Mas e ai, como foram os últimos dias em Macuse?


Eu e a professora, carregando o camelo pra levar os materiais comprados.



Maravilhosos! Posso assim dizer. Desde que voltei das minhas ferias de Natal e Ano novo, as aulas ainda não retornaram, assim pude dar foco o suficiente no projeto que mais me deixa contente. A Escolinha de Mutapula. Depois de muito batalhar, e com a ajuda dos meus amigos e familiares consegui arrecadar na moeda local quase 7.000 meticais. Esse dinheiro veio de duas formas: 85% de doacoes do meu Brasil e o restante de vendas das roupas e acessórios meus e da Elis no mercado local. Genteeeeeeeeeeeee, com isso conseguimos manter a escola por esse ano letivo funcionando. Estou muito feliz, nunca irei esquecer quando la estava eu na escolinha, no momento da entrega das doacoes, da pequena festinha com as crianças com biscoito e suco… chego a me arrepiar, lembrar que a comunidade compareceu e quase botou abaixo a escolinha. Sabe quando vemos na TV a Xuxa indo pra algum lugar cheio de crianças e ninguém mais respeita nada, todos querem ficar perto? Então, essa era eu e a Elis. Posso dizer que tive aqui na Africa meu momento Gisele Bundchen, Xuxa… enfim, e algo único que nunca irei esquecer na minha vida. Logo abaixo irei detalhar tudo que comprei.




Na escolinha, momento desenho.


Foi triste o fato de ter saído de la sem ter tido uma festa com os alunos, eles já tinham ido e os novos eram o primeiro dia deles. Mas não há problemas. Pude me despedir dos amigos que la eu fiz, das pessoas que sempre me ajudaram e sempre estiveram junto comigo nos momentos alegres e tristes dessa longa caminhada.




Ao chegar em Maputo, foi difícil. Como no post inicial de quando cheguei aqui que definia Maputo como São Gonçalo, mas hj mudei um pouco minha visão. Aqui seria uma grande baixada, muitas pessoas, muito caos, muita pobreza e poucos realmente bem ricos. Foi difícil minha ida solitária ate o aeroporto pra tentar consertar minha passagem de volta aos EUA. Saída recentemente do mato, chegar no meio da grande cidade caótica me deixou com uma leve síndrome do pânico. Estava tão assustada que muitos me ajudaram no caminho do aeroporto. O transporte publico local no site do MRE diz para não utilizarmos. Mas a vida de voluntário e igual a vida de um local. La estava eu nas vans bombas, lotadas e assustada com assalto, com o caos. Meu rosto era sinonimo de uma menina do interior que tinha acabado de chegar no Rio de Janeiro. Mas graças a Deus, depois de ter comido minhas unhas, depois de muitos me ajudarem, consegui ir no aeroporto e não resolver o meu problema de passagem, ir no banco, e não sacar dinheiro do Western Union de uma amiga e debaixo de uma chuvada achar meus amigos… Nesse caminho já tinha mandado uns 5 homens irem a M@*%@!, alguns se F^%$@, e o ultimo um grito bem alto de CALA A BOCA!, rs… nesse ultimo acho q a rua inteira ecoou um Xiiiiiiiiii, pra minha exclamativa tão enraivosa. Aqui na cidade e comum os homens mexerem com a gente simplesmente pq somos "brancas"… isso me irrita profundamente e depois de estar completamente molhada e suja, achar os amigos para ir ter um belo de almoço foi a minha redencao do dia.


Um dos aluninhos...


De tudo de bom que aqui vivo, há esses perrengues. Antes de sair da casa dos DIs da Machava, dois adolescentes começaram a seguir eu e a Elis. Queriam conversar, estávamos cansadas e nos desculpamos, e depois com a cara mais lavada do mundo nos perguntaram se podiam tocar na gente. Sério, perguntaram se podiam tocar numa brasileira pq eles nunca tinham visto uma. Naquele momento me senti no século XVI ate o XIX, aquelas pessoas que eram postas em gaiolas e eram expostas por qualquer tostão pelo fato de terem alguma parte do corpo diferente. Tive raiva, gritei pedindo licença. Um dos meninos me disse que era racismo o que estava fazendo. Ai já não mais me controlei, disse que o racismo era por parte dele, que a discriminacao era por parte dele e que eu não era bicho pra ser tocada. Dai eles se tocaram e foram embora, ainda comentaram entre si que nos so queríamos tirar o dinheiro deles… ai já não mais me controlei, perdi toda a parca educacao que estava tendo e gritei pra todos das rua escutarem que eu era voluntária e que aqui em Mozambique nada ganhava. Os meninos foram embora, a Elis buscou me acalmar… e assim vamos levando alguns momentos tristes que temos aqui.



Mas, no geral, foi tudo tão bom, que se eu também so falar as coisas boas, as pessoas vão chegar aqui achando que tudo e uma maravilha. Não e. Tudo tem dois lados da moeda.



Mas, voltando ao que me motivou a postar nesse primeiro dia de retorno a uma razoável Internet, ta ai o resultado dos nossos pedidos aqui da Africa:



Compras:

760 cadernos


280 lapis

60 borrachas


3 canetas professora


10 cx lápis de cor


1 caderno professora


72 apontador


1 resma papel


2 bolas de futebol


1 corda de pular


11 canecas


12 copos


1 bidao


7 farneis de pano para manter income generation.


Na escolinha. Alunos e comunidade. Ainda tava vazio o local.


Com isso ainda sobrou 2 mil meticais aonde deixei para a DI Gabi, uma húngara, manter a escola funcionando e gerindo. Consegui pelo menos manter com o básico, minhas expectativas e que com o tempo que a Gabi terá, ela possa dar continuidade, assim melhorando e muito o que deixamos la depois de encontrarmos tudo no zero.


Assim vamos levando, ca estou eu de novo no mato, a faculdade fica no meio do nada, nem uma coca gelada pra comprar, mas muito feliz com tudo que eu fiz e fechar aqui passando um pouquinho da minha experiência e dos meus estudos para o curso de Combatentes da Pobreza. Um curso novo aqui em Mozambique que esperamos que tenha muito sucesso.


Obrigada por tudo!



Amo vcs!



Bia Vilela





Ah, meu nome em duas diferentes línguas locais significa: Bia = panela e Vilela = coragem.



Ah2, desculpa se algumas palavras tem acentuacao e estão corretas e outras não, no computador que eu tenho não há como acentuar a algumas são automáticas do Word.



Ah3, CARALHOOOOOOOOOOOoooOOOOOOO... desculpa a expressao, mas valeu a galera do time de agosto que fechou o fundraising!! To louca pra ver o resultado do trabalho de vcs!! Eu amei tudo aqui e espero que o Thiago e a Gabi, ambos brasileiros, possam enjoyar cada segundo, Nhamatanda eh perto tanto do norte e do sul, entao da pra conhecer bem mozambique caso seja possivel...


Ah4, To louca pra chegar nos EUA e rever os amigos, principalmente a Carol, que se tudo der certo, sera a primeira pessoa que verei assim que chegar em terras san franciscanas.

Ah5, mas de outro lado, to doida pra voltar logo ao brasilzao, rever a galera e a familia... ai ai ai...

Ah6, e o pior dos ahs... quero muito nao sair daqui ou voltar o quanto antes... ai ai ai... OOoOOoO vida dificil.


Ah7, Mae te amo!


Ah8, Rafa te amo


Ah9, Obrigada Elis por ter me aturado esse tempo todo... espero q ate o ultimo dia vc consiga ser forte pra aguentar meus trancos de mal humor


Ah10, Vovo, aonde quer q vc esteja, sei q vc esta feliz por mim, por saber que apesar de tudo que eu passei por aqui, fui forte o suficiente pra nao desistir e fui serena o suficiente pra que caso eu nao conseguisse, ir embora... sempre pensei em ti cada segundinho. Cada momento que estive sem cafe, sem queijo, sem alguem pra me dizer "Bia, vc sabia?", sem alguem pra sorrir e dizer todas as coisas boas q so vc sabia me dizer. Peco desculpas qdo deixei minha familia no Brasil no momento mais dificil que passamos, mas hj sei que em todo esse tempo vc estava do meu lado. Mesmo tudo estando dificil, la estava vc me consolando nos momentos de choros e sorrindo nos momentos felizes. Vc sempre sera o meu norte, o meu sul, o meu mundo.


ESTAMO JUNTOS!


Bj bj bj bj bj bj bj




Tentativa de tirar foto com todos os alunos. Impossivel, o lugar estava cheio demais e nao havia espaco para a camera.