segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Voltando para a "civilizacao"

Bem, depois do ultimo post, tive meus dias intensos na OWU. Primeiro pelo fato de la ter ser meu ultimo lugar em mocambique ao qual trabalhei. Segundo pela festa maravilhosa q eles fizeram pra mim e para a Elis no nosso ultimo dia la. Vi uma mocambicana sambando melhor q muitas brasileiras (ou a maior parte), vi salsa, vi comida... enfim, vi tudo q um mocambicano qdo realmente esta agradecido faz... Foi intenso as minhas duas semanas la, mas chorei qdo despedi daqueles alunos. Estou certa q eles terao um belo futuro pela frente.

Apos isso, minha unica vontade era comer em algum lugar q era parecido com o Brasa. Gente, nao tenham duvidas, as duas colonias brasileiras q conheci, ambas tem o gosto parecido, claro q la carece de muita coisa e infomacao, mas basico q todo brasileiro gosta, tem la... fui atras disso e consegui.

Meu ultimo dia em mocambique talvez tenha sido o dia mais engracado, mais real e mais motivante. As 19 e 30 Elis disse q tinhamos q sair para algum lugar q nao fosse a machava, mas nessa hora, chapas (transporte publico) sao dificeis. Saimos de la sabendo q tinhamos q pedir carona, ate 2 romenos e 1 lituana querer vir conosco. Pois bem, conseguimos uma chapa e chegamos no centro, ou baixa. La procuramos algo para fazer, ja q ninguem tinha ideia. Eu tinha e andei. 2 policiais vieram, algo normal em mocambique qdo veem branco, pediram passaporte, para o meu espanto, os romenos nao levaram... era o meu ultimo dia... nunca fui taooo simpatica e cheia de motivos com os policas.... nos liberaram sem dar nenhum centavo.

Apos comer, fomos para um bar q ja tinham nos recomendado. Era um lugar beeeem africano com bons musicos. Tava precisando disso, ja q eu nunca vi. Ao chegar la, descobrimos q era Karaoke noite. Entrei. La na frente, mesa posta, que 4 horas depois fui descobri q era ed uma cantora famosa mocambicana... eu nao sei de nada... nao tinha tv!

Curti muito ate o momento q senti q na terca-feira de carnaval precisava... axe ou samba! Procurei e axei poeira da ivete. Sabia q eles gostavam muito la, entao cantei, com uma banda maravilh0sa... puz todos e tudo pra dancar... dei autografo, vieram gente na minha mesa ocmentar a minha performance, e ainda ao terminar de cantar, bati na mao de todos q estavam na frente, como rock star, q estavam gostando... eram todas, inclusive a tal grande cantora mocambicana...

As vezes perdermos tanto tempo tentando achar a pobreza, que a pobreza, de espirito, esta bem ao nosso lado...

Mocambique me mudou... nao sei ao certo aonde vou, aonde estou... to nos eua, mas queria estar em algum lugar q nao sei...

Uma experiencia unica, que me fez crescer como pessoa...

Sao taaaantas coisas pra falar, mas paro por aqui antes de vcs dormirem!

OBRIGADA POR TUDO!

APESAR DO SOLO AMERICANO, OS DIAS CONTINUAM E A BATALHA AINDA TA ACESA!!!

Tudo de bom sempre!

Bia

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Todo carnaval tem o seu fim, mas todo fim é um novo começo!!!

Então tá né gente!

Preciso postar pela última vez daqui de Moçambique. Claro que o blog não irá terminar, talvez agora que eu não esteja tanto na correria, consiga ser uma pessoa séria com esse meu menino e atualizá-lo em dias certos. Agora ele vai tomar mais um rumo de ajudar as pessoas a conhecerem um pouco essa Moçambique que tanto me inspirou. Também o blog ajudará aquela galera que quer fazer turismo por lá, com dicas e tudo. E claro. como todos bem me conhecem, vamos falar dessa política moçambicana que tem muito a ser comentada.

Mas, daqui levo amigos.

Amigos DIs, como a Elis, que sempre esteve ao meu lado nos momentos difíceis e principalmente nos momentos alegres. Obrigada dona Moça, por termos quase terminados os nossos dias aqui sem jorrarmos um pingo de sangue (olha que quase isso aconteceu... coisa de irmãs...). Mas tá bom né Elis? Precisamos ver novas pessoas, matabichar, almoçar, trabalhar, jantar, findis, dormir, ou seja, praticamente 24 horas juntas nesses seis meses, já deu né? Mega não deu!! Te vejo em São Paulo!! Vale R$ 400,00, não esqueça.

Amigos moçambicanos que são muitos, tantos que não ouso escrever o nome de ninguém... tá bom, vou escrever o do Rush, que quando eu tava passando quase fome, saiu de Quelimane e trouxe comida pra nós. Tb vou falar do Franklim, gente fina que comanda super bem o TCE de Macuse. O Isaias, cara gente fina que consegui fazer uma boa parceria de trabalho, a Celia, o Vidal e a senhora Bloco-queimado pelos momentos de risos, as Mamás que sempre estavam aptas para me ajudar, toda a galera do meu projeto. Meus amiguinhos lindos que fizeram dos meus dias uma eterna brincadeira... ai ai ai... meus alunos, que sempre estavam lá me gritando "BELEZA!!", aos meus alunos de informática, por ter feito meus dias um desafio maravilhoso.
Sem esquecer, claro, dos COMBATENTES DA POBREZA, obrigada pela despedida linda e maravilhosa, obrigada por citar algumas frases das minhas aulas, percebi que vcs estavam prestando atenção nela! Obrigada, obrigada msm!!! Ah, obrigada por terem dançado salsa, street dance e principalmente É o Tchan!! Foi lindooOOoOOoo!!

Aos amigos dos bares da vida, aqueles momentos que sentamos pra comer e sempre estavam la querendo conversar com as brasileiras. Aos frangos desses bares que sempre foram excelentes!! As dozes de batata frita, mas principalmente aos amigos que pagavam a coca e a água! OooOo gente pra pagar as coisas que nem podemos negar pq senão é desfeita!! ha ha ha

Agradeço aos ventos de Macuse, ventos que sempre fizeram da nossa casa a mais cobiçada por todos. Ventos que fizeram eu dormir, e durante a madrugada no calor, quando esses ventos surgiam, sonhava como se fosse vento vindo da Áustria! ahuahauha... vai saber o pq disso!! Sonho é sonho!!

Mas gente, acima de tudo, agradeço as boléias, as eternas caronas que nos levavam pra baixo e pra cima qdo saiamos da nossa querida Zambézia.

Tb, sem deixar de esquecer, obrigada os verdadeiros amigos, que mesmo eu fazendo 17 meses fora de casa, ainda continuam me procurando, querendo saber da minha vida, e fazendo de poucas noites que tenho no computador, msn, fazer como se eu tivesse ao lado de vcs.

Obrigada a nova família que formei, a família CCTG e DIs, sem vcs meus dias nao poderiam ser melhores!!

Família linda no Brasa! Segura que essa ovelha desgarrada chega a qualquer momento... ta chegando o dia que terei uma resposta sobre o meu futuro, quem sabe nao volto ja no mes que vem? Tudo depende to tão temido e idiota visto de permanencia nos EUA.


Galera, o BLOG NÃO TERMINA! Ainda tenho historias e estórias pra contar, Moçambique tem muito a ser explorado e farei desse blog um meio pra que nós brasileiros passamos a conhecer um pouco mais dessa terra aqui que tanto ama esse nosso Brasil!!!!

Agora o vento sopra forte aqui em Changalane. Perdi minha boléia pra ir pra Maputo hj de manhã, espero que não chova, pq se não conseguir sair desse mato que fica a OWU, vai ficar difícil eu conseguir fazer tudo antes da viagem de volta aos EUA. As vezes cansa essa vida de voluntário que não pode ter nada, só pedir e esperar... espero então que o tio apareça pra eu poder chegar em Maputo, conseguir comprar algumas coisinhas finais para a viagem, conseguir tb comer bem e igual ao Brasil antes de chegar nos EUA, pq lá além de ter comida ruim pra essa brasileira de raiz, ainda tá um frio dos cacetes!!

Beijos e mais beijos enviados daqui de Moçambique!!

Próxima parada? Quarta-feira inicio a viagem de volta aos EUA, chego lá na quinta-feira... 25 horas dentro de 3 aviões diferentes... espero que esse machibombo não quebre no caminho!! ahuahauhauah... brincadeira de mal gosto... nããããããããããããooo... Karlinha se lembra a primeira vez q entrei num avião e quase chorei de medo do treco cair!! he he he

Fui!!!

Saudades!! Agora do Brasil e inicia a de Moçambique!!

Bia Vilela

Coisos que aprendi em Moçambique

Estava com os meus botões, pensando sobre o blog, e descobri que ele tá pesado demais. Sempre to escrevendo coisas pesadas, mas pouco sobre a vidinha daqui que tive, o que eu aprendi, as coisas diferentes do meu brasilzão, apesar de compatilharmos a mesma língua. Então vamos lá né? Sempre que eu lembrar de algo novo, vou escrever aqui um pouquinho. Histórias e estórias que vivi ou escutei, diferenças de língua... vamo q vamo!

Bem, pra começar vou escrever um pouco das coisas que demorei um pouco pra entender quandoe escutava falando. As diferenças do português de cá pro daí do Brasil.

Gajo = cara
Mafioso = 171, malandro, bandido

"Aquele gajo é um mafioso"
"Aquele gajo é bonito!"

Matabicho = café-da-manhã
sumo = suco
refresco = refrigerante
grosso = bêbado
piri-piri = pimenta malagueta
sandes = sanduiche
vorse = linguiça
xima = angu com farinha de milho branca, porém feito mais consistente
matapa = folha de mandioca pilada com amendoim, coco e camarão
xima com matapa, comida típica em Moçambique

Oyê! = saudação pra qualquer coisa
"Moçambique Oyê!" "Macuse Oyê!"
leão feito = magia feita em certas regiões para matar alguém. O leão vem e come a pessoa!


mata Bia = Bia e Elis ou Bia e alguns alunos...
gorda = gorda (e toda hora me chamavam! pqp...)
muzubia = linda (q derrota, tb escutava isso de gente sem dente!)
Bia = panela
telemovel = celular

Bem, hj ficamos com essas informações... amanhã posto mais... he he he

Ixi, sem esquecer que o coiso aqui é como se fosse coisa, mas eles usam pra tudo. Se tu não sabe a palavra ou esqueceu, mete o coiso que tudo dá certo! ahuahauhau

bj bj bj

Um pé sem chão


Sabe aquele momento que você se encontra um pouco perdid0? É, talvez seja esse momento que eu esteja vivendo.


Compartilho agora a angústia ao qual me encontro, prestes a terminar meus dias aqui em Moçambique, estou pensando o que será o meu futuro. Muitas possibilidades, poucas soluções e muitos sonhos fazem esses meus dias se tornarem pesados.


Há 30 minutos atrás terminei minha aula de Política Internacional Atual para o curso de combatentes da pobreza aqui na universidade ao qual estou nos últimos 10 dias. Bem, foi uma aula muito boa, eu terminei pq tinha que terminar. Os alunos queriam mais e mais, e eu já tinha estourado o tempo em 26 minutos. Terminei com aquele gostinho: "pq não voltar a faculdade, terminar a graduação e ser professora?". Não que eu não vá me formar, mas isso era um plano que iria adiar por pelo menos 2 ou 3 anos. Mas bateu agora, nesse momento, parar essa minha vida de querer ver o mundo, ganhar graduação, estudar e aliar isso a essa minha vida de voluntária. Não sei.


Imagine que você viveu a vida toda num bairro. Nunca saiu dele, pois lá tinha tudo que você precisava. Mas, um dia, por azar do destino, você se perdeu e caiu no bairro vizinho. Vc viu um mundo novo. Vc acha que ficar dentro do seu bairro agora, com um novo bairro desconhecido a ser explorado é possível? Bem, esse é o meu atual "Ser ou não ser, eis a questão."


Não me desfazendo do mundo dos intercambistas e dos viajantes da europa, quem sou eu pra falar mal, mas essa vida de conhecer a realidade do país crua, como foi a dos EUA, de estar em bairros totalmente pobres e bem ricos, de vir pra cá, conhecer tanto a área rural, como a área urbana, enfim, estar dentro da realidade do país me deixa com aquela sensação que se eu voltar pra faculdade, o máximo que poderei fazer é conhecer um país por um tempo pouco, num pacote da CVC ou num mochilão louco da vida por umas semaninhas. Nada como a experiência total e verdadeira que eu tive. De conversar com as pessoas, de conhecer a realidade dura e pura, seja de um país pobre, seja de um país rico, me leva a crer que nada traduz a realidade de um povo que ele mesmo. E o único canal para conhecer a realidade será os seus olhos. Livro, tv, jornais e revistas traduzem a foto, um momento como total realidade, não nos mostra os detalhes de uma sala de aula de criança de 7 anos, não nos mostra como o meio ao qual vive dá sentido a muitas coisas e situações.


"E agora José?, José para aonde?" Tudo isso traduz o meu sentimento de voltar ao Brasil ou não, ir para os EUA e ficar lá um tempo ou não, voltar para a África daqui há alguns meses ou não. E nisso tudo, o que vou fazer nesses lugares? Meu medo de voltar ao Brasil e voltar para a facul, é de matar uma das crianças mimadas do meu curso. Amo RI, mas conheço o povo de lá, a grande maioria vem de famílias com poder aquisitivo considerado e que acha que Malhação, Jornal Nacional, MTV, Globo News e CNN são as melhores coisas do mundo. Leem livros e acham que quanto mais leem, mais inteligentes são. Sabem de muitas teorias, mas ainda acreditam que Leis trabalhistas, mercado fechado para alguns setores, enfim, coisas que não sejam liberais, é idéia de gente estúpida. Mal sabem o que é África, mas tem toda a certeza que aqui tem um bando de pessoas sem futuro, um lugar para esquecer. Acham que a Europa e EUA é o centro da razão mundial... não são todos que pensam assim, óbvio, mas quando saí do meu ambiente acadêmico, estava no meio de um fogo cruzado que me via com poucos ao meu lado nesse meu pensamento social e humanista. Esses poucos ainda permanecem lendo o meu blog e conversando comigo. A maioria ou tem essa opinião, ou esperam ler algum livro que dê uma noção de qual lado vão ficar. Livros... ah os livros. Amo ler, mas cada vez mais tenho raiva dos livros que se mostram com a total razão.


Ficar nos EUA por um tempo estudando seria uma ótima. Todos sabem que é difícil para um brasileiro assalariado como eu ter o oportunidade de estudar por lá. Estando dentro do país fica bem fácil, mas, ainda assim é os EUA, terra de gente que acha que o Brasil fica na África e que Mozambique ainda é colônia de algum país europeu.


Voltar para África seria algo que mais me intriga e mais me motiva. Aqui tive dias ruins, ruins, ruins e bons. Sim, vc acha que viver no mato é fácil? Bonito e motivante, mas ter q beber água amarela, ter q comer arroz e feijão e batata doce, ter q economizar água no banho que é de caneca, ter q andar 45 minutos para comprar um pão, não ter nada além de mato, terra e lua nas sextas a noite, ce acha q é fácil? Desculpem mas os dias ruins superam os bons de certo. Claro q foi maravilhoso o meu trabalho, amo a comunidade e tudo, mas nao ter nada além dos seus pensamentos e os pensamentos da Elis pra trocar, pq nem TV nem Internet e nem um bom livro tinha, cansa... cansa e muito. Mas, com tudo isso, com tudo que passei aqui, e nesse meio, ouso citar o mês que não consegui dormir, com medo de entrarem na minha casa pelo fato de quase ter caído numa grande armadilha para um cara que confiei tentar fazer sexo comigo a força, com tudo isso, ainda penso em voltar para cá.


Aqui na África vc precisa entender o local. Hj ganhei um medo de homens, mas entendo que eles não são iguais aos nossos, ainda o fato de eu ser "branca", mexem muito com eles, então, sabendo como lidar e a quem pedir e aceitar ajuda, tudo isso faz com que hj eu me sinta mais a vontade aqui, já entenda o que fazer e como fazer, aonde ir e não ir, quem eu posso conversar ou não.


Aqui há muito trabalho. Tudo é novo. Tudo que trazemos é novo para eles. O simples é muito. Até minha parca inteligência é positiva aqui. Ainda lembro de um dos coordenadores do meu curso, a forma que ele me via, simplesmente pq qdo eu estudava, vivia no celular pq tinha tb q ajudar meus colegas no trabalho. Aqui o pouco que ele teimava em me testar e até me tirar pontos de uma prova pq com certeza achava q eu tinha colado, esse pouco é bem útil. Isso me motiva, me cativa. Não que eu queira ser o centro das atenções, mas simplesmente promover a vontade de eles buscarem por eles mesmos as respostas para os problemas dos países deles, conseguir ajuda pras crianças estudarem, abrir os olhos deles com novas formas de ver o mundo, enfim, tudo isso me deixa bem feliz. Mas, ainda há o grande porém: como viver sem amigos e família.


Bem, nesse interím, cá estou eu, na minha busca eterna do meu futuro. Sei que assim que chegar nos EUA, e rever os amigos que lá fiz, e principalmente rever a Carol, vai fazer eu repensar o meu futuro. Hj posso dizer que estou muito tentada em voltar pra cá o quanto antes, estudar RI aqui msm em Moçambique, mas, lá eu terei a certeza.


Tenho que voltar para os EUA pra dar cursos para os novos voluntários, chamamos de Camp Future, mas ainda estou pensando se realmente vale a pena eu perder dois meses da minha vida fazendo isso para muitos que não querem nem saber do meu trabalho, só querem reclamar da vida e cairam nessa de ser voluntários pq é a forma mais barata de conhecer o mundo. Até pq o fato de sair daqui sem saber ao certo o que irei fazer depois de tudo que eu vivi, desculpe, não vale a pena. Acho que no Brasil tem mais gente querendo saber do meu trabalho aqui e das minhas experiências do que lá. Chega ser engraçado eu ler as pessoas me pedindo para voltar pq querem que eu cozinhe algo q eles gostam, pq querem me rever, mas ainda não escutei nada sobre mostrar o meu trabalho lá, isso me desmotiva e muito. A ONG de uma forma geral, ajuda e muito, muita gente, mas o caminho dos voluntários é tortuoso, eles esquecem que querem vir para África ou outro país e só conseguem enxergar os problemas no caminho, não vejo muita gente que trabalha pela ONG tentando motivar os voluntários, querem que eles sejam grandinhos e parem de reclamar, não são humanos conosco, isso me desmotiva. Não vejo eles tb na busca de pessoas boas para trabalhar com eles, acho que eu nunca seria o perfil ideal de trabalhadora para eles (apesar de todos os voluntários serem convidados a continuar a trabalhar com eles), pois gosto de motivar, de olhar quando estamos errados, fazer mea culpa para achar soluções e todos ficarem felizes... essa sou eu. Posso falar um inglês porco, um português louco, um portunhol barato, mas minha essência fica bem clara para todos, e isso pesa muito. Como a música da Sandra de Sá e Gabriel o Pensador, "Eu não devo nada a ninguém, eu não sou do mal nem do bem, estou fazendo a minha estrada sem pedir carona", eu simplesmente quero tentar algo, e ver que mesmo eu não sendo um grande nome, consegui inspirar pessoas a serem. Ou simplesmente acharem a estrada certa para trilharem, sem pensar que sucesso e reconhecimento seja a principal coisa da vida, somente pensando que se plantarmos o bem, colheremos o bem, e que esse bem não quer dizer que temos que ser 100% calados e concordarmos com tudo que vemos. As vezes gritar, se estressar, ser aquela pessoazinha que fala algo totalmente diferente para todos pensarem, e que muitos pensam que é algo ruim, simplesmente é para as pessoas pararem de usar o senso comum como o caminho mais curto para a felicidade.


Díficil o post de hj. Difícil mesmo, pois estou falando de algo que é o meu eu, como eu vejo a vida. Meus tempos aqui me mudaram e muito. Minha essência é a mesma, mas mudei muito. Acho que não consigo mais aturar aquele patrão que foi posto no cargo pq é amigo de alguém, mas que olha os outros como se fossem um empregadinho qualquer. Acho que não consigo passar por um cara que acabou de furar o sinal numa avenida cheia de criança sem o perseguir e falar umas boas verdades na cara dele. Acho que não consigo ficar calada e seguir minha vida qdo eu ver alguém sendo roubado na rua. Acho que não consigo mais entrar na minha casa, cada vez mais trabalhar e fazer dela melhor, esquecendo que a minha volta, nesse mundo, muitos ainda morrem de fome, de ignorância, de Aids, de cólera, de caxumba, de malária, de diarréia... sem tentar fazer algo, pelo menos para alguns.


Sei que não posso mudar o mundo, mas se cada um contribuir um pouco, seja nas atitudes pessoais, seja com o seu tempo, esse mundo pode ser mudado. Não precisamos de políticos para vivermos na paz, precisamos que nós, que somos grande maioria, promover ela em cada atitude. A geração que está crescendo agora precisa de boas influências que esteja acima de qualquer TV.


Desculpe meu momento eu. Estou chorando por dentro. Ainda não sei que caminho escolher. O medo me assola. Mas, está no momento de decidir e será isso que vou fazer nesse mês que se iniciou. Sei que qualquer que seja o meu futuro, irei perder de um lado. Mas a balança principal é o coração e a felicidade, então, vamos atrás dela, pq o que queremos é que o sol esteja sempre brilhando na nossa janela!


Obrigada a todos que leem.


Bom Carnaval!


Pros brazucas e amigos q estao vindo para África - BOA SORTE E ENJOYEM cada momentinho!


Pra galera q está em fundraising pra vir pra cá - Cada alegria e tristeza vale a pena, e no final, vcs irão perceber que tudo faz parte de um aprendizado único da vida!


Se alguém se sentiu incomodado com minhas palavras de hj, peço desculpas sinceras.


Com todo o meu coração,


Bia Vilela

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Acabou?

Na varanda de casa, a alegria depois das compras



Depois de postar minhas ultimas informações sobre como vejo o mundo, como cada coisa me toca aqui estando longe de todos e as vezes se perguntando se fazer isso e o certo, cá estou eu de novo. A única e talvez mais grande diferença e que não mais estou em Macuse. Sai de la na semana passada e iniciei minha viagem de volta a capital de Moçambique, Maputo.







No mercado local vendendo minhas coisinhas e da Elis. Tudo pela escolinha.

Sai de la antes de completar meus seis meses em virtude que tenho meu período de investigacao. Essa investigacao decidi fazer na OWU, faculdade da ONG ao qual sou voluntária. Aqui irei dar aulas por duas semanas. O legal que irei falar de politica, motivacao e trabalho em equipe. Fora ensina-los um pouco sobre apresentacoes. Isso tudo eu fazia ai no Brasil, o que me deixa feliz por voltar a estar um pouco na minha realidade, depois de 1 ano e meio em outra realidade, se conectar de novo ao meu mundo me deixa feliz. O melhor e que será somente duas semanas. Tempo suficiente pra essas pequenas “ferias”.



Mas e ai, como foram os últimos dias em Macuse?


Eu e a professora, carregando o camelo pra levar os materiais comprados.



Maravilhosos! Posso assim dizer. Desde que voltei das minhas ferias de Natal e Ano novo, as aulas ainda não retornaram, assim pude dar foco o suficiente no projeto que mais me deixa contente. A Escolinha de Mutapula. Depois de muito batalhar, e com a ajuda dos meus amigos e familiares consegui arrecadar na moeda local quase 7.000 meticais. Esse dinheiro veio de duas formas: 85% de doacoes do meu Brasil e o restante de vendas das roupas e acessórios meus e da Elis no mercado local. Genteeeeeeeeeeeee, com isso conseguimos manter a escola por esse ano letivo funcionando. Estou muito feliz, nunca irei esquecer quando la estava eu na escolinha, no momento da entrega das doacoes, da pequena festinha com as crianças com biscoito e suco… chego a me arrepiar, lembrar que a comunidade compareceu e quase botou abaixo a escolinha. Sabe quando vemos na TV a Xuxa indo pra algum lugar cheio de crianças e ninguém mais respeita nada, todos querem ficar perto? Então, essa era eu e a Elis. Posso dizer que tive aqui na Africa meu momento Gisele Bundchen, Xuxa… enfim, e algo único que nunca irei esquecer na minha vida. Logo abaixo irei detalhar tudo que comprei.




Na escolinha, momento desenho.


Foi triste o fato de ter saído de la sem ter tido uma festa com os alunos, eles já tinham ido e os novos eram o primeiro dia deles. Mas não há problemas. Pude me despedir dos amigos que la eu fiz, das pessoas que sempre me ajudaram e sempre estiveram junto comigo nos momentos alegres e tristes dessa longa caminhada.




Ao chegar em Maputo, foi difícil. Como no post inicial de quando cheguei aqui que definia Maputo como São Gonçalo, mas hj mudei um pouco minha visão. Aqui seria uma grande baixada, muitas pessoas, muito caos, muita pobreza e poucos realmente bem ricos. Foi difícil minha ida solitária ate o aeroporto pra tentar consertar minha passagem de volta aos EUA. Saída recentemente do mato, chegar no meio da grande cidade caótica me deixou com uma leve síndrome do pânico. Estava tão assustada que muitos me ajudaram no caminho do aeroporto. O transporte publico local no site do MRE diz para não utilizarmos. Mas a vida de voluntário e igual a vida de um local. La estava eu nas vans bombas, lotadas e assustada com assalto, com o caos. Meu rosto era sinonimo de uma menina do interior que tinha acabado de chegar no Rio de Janeiro. Mas graças a Deus, depois de ter comido minhas unhas, depois de muitos me ajudarem, consegui ir no aeroporto e não resolver o meu problema de passagem, ir no banco, e não sacar dinheiro do Western Union de uma amiga e debaixo de uma chuvada achar meus amigos… Nesse caminho já tinha mandado uns 5 homens irem a M@*%@!, alguns se F^%$@, e o ultimo um grito bem alto de CALA A BOCA!, rs… nesse ultimo acho q a rua inteira ecoou um Xiiiiiiiiii, pra minha exclamativa tão enraivosa. Aqui na cidade e comum os homens mexerem com a gente simplesmente pq somos "brancas"… isso me irrita profundamente e depois de estar completamente molhada e suja, achar os amigos para ir ter um belo de almoço foi a minha redencao do dia.


Um dos aluninhos...


De tudo de bom que aqui vivo, há esses perrengues. Antes de sair da casa dos DIs da Machava, dois adolescentes começaram a seguir eu e a Elis. Queriam conversar, estávamos cansadas e nos desculpamos, e depois com a cara mais lavada do mundo nos perguntaram se podiam tocar na gente. Sério, perguntaram se podiam tocar numa brasileira pq eles nunca tinham visto uma. Naquele momento me senti no século XVI ate o XIX, aquelas pessoas que eram postas em gaiolas e eram expostas por qualquer tostão pelo fato de terem alguma parte do corpo diferente. Tive raiva, gritei pedindo licença. Um dos meninos me disse que era racismo o que estava fazendo. Ai já não mais me controlei, disse que o racismo era por parte dele, que a discriminacao era por parte dele e que eu não era bicho pra ser tocada. Dai eles se tocaram e foram embora, ainda comentaram entre si que nos so queríamos tirar o dinheiro deles… ai já não mais me controlei, perdi toda a parca educacao que estava tendo e gritei pra todos das rua escutarem que eu era voluntária e que aqui em Mozambique nada ganhava. Os meninos foram embora, a Elis buscou me acalmar… e assim vamos levando alguns momentos tristes que temos aqui.



Mas, no geral, foi tudo tão bom, que se eu também so falar as coisas boas, as pessoas vão chegar aqui achando que tudo e uma maravilha. Não e. Tudo tem dois lados da moeda.



Mas, voltando ao que me motivou a postar nesse primeiro dia de retorno a uma razoável Internet, ta ai o resultado dos nossos pedidos aqui da Africa:



Compras:

760 cadernos


280 lapis

60 borrachas


3 canetas professora


10 cx lápis de cor


1 caderno professora


72 apontador


1 resma papel


2 bolas de futebol


1 corda de pular


11 canecas


12 copos


1 bidao


7 farneis de pano para manter income generation.


Na escolinha. Alunos e comunidade. Ainda tava vazio o local.


Com isso ainda sobrou 2 mil meticais aonde deixei para a DI Gabi, uma húngara, manter a escola funcionando e gerindo. Consegui pelo menos manter com o básico, minhas expectativas e que com o tempo que a Gabi terá, ela possa dar continuidade, assim melhorando e muito o que deixamos la depois de encontrarmos tudo no zero.


Assim vamos levando, ca estou eu de novo no mato, a faculdade fica no meio do nada, nem uma coca gelada pra comprar, mas muito feliz com tudo que eu fiz e fechar aqui passando um pouquinho da minha experiência e dos meus estudos para o curso de Combatentes da Pobreza. Um curso novo aqui em Mozambique que esperamos que tenha muito sucesso.


Obrigada por tudo!



Amo vcs!



Bia Vilela





Ah, meu nome em duas diferentes línguas locais significa: Bia = panela e Vilela = coragem.



Ah2, desculpa se algumas palavras tem acentuacao e estão corretas e outras não, no computador que eu tenho não há como acentuar a algumas são automáticas do Word.



Ah3, CARALHOOOOOOOOOOOoooOOOOOOO... desculpa a expressao, mas valeu a galera do time de agosto que fechou o fundraising!! To louca pra ver o resultado do trabalho de vcs!! Eu amei tudo aqui e espero que o Thiago e a Gabi, ambos brasileiros, possam enjoyar cada segundo, Nhamatanda eh perto tanto do norte e do sul, entao da pra conhecer bem mozambique caso seja possivel...


Ah4, To louca pra chegar nos EUA e rever os amigos, principalmente a Carol, que se tudo der certo, sera a primeira pessoa que verei assim que chegar em terras san franciscanas.

Ah5, mas de outro lado, to doida pra voltar logo ao brasilzao, rever a galera e a familia... ai ai ai...

Ah6, e o pior dos ahs... quero muito nao sair daqui ou voltar o quanto antes... ai ai ai... OOoOOoO vida dificil.


Ah7, Mae te amo!


Ah8, Rafa te amo


Ah9, Obrigada Elis por ter me aturado esse tempo todo... espero q ate o ultimo dia vc consiga ser forte pra aguentar meus trancos de mal humor


Ah10, Vovo, aonde quer q vc esteja, sei q vc esta feliz por mim, por saber que apesar de tudo que eu passei por aqui, fui forte o suficiente pra nao desistir e fui serena o suficiente pra que caso eu nao conseguisse, ir embora... sempre pensei em ti cada segundinho. Cada momento que estive sem cafe, sem queijo, sem alguem pra me dizer "Bia, vc sabia?", sem alguem pra sorrir e dizer todas as coisas boas q so vc sabia me dizer. Peco desculpas qdo deixei minha familia no Brasil no momento mais dificil que passamos, mas hj sei que em todo esse tempo vc estava do meu lado. Mesmo tudo estando dificil, la estava vc me consolando nos momentos de choros e sorrindo nos momentos felizes. Vc sempre sera o meu norte, o meu sul, o meu mundo.


ESTAMO JUNTOS!


Bj bj bj bj bj bj bj




Tentativa de tirar foto com todos os alunos. Impossivel, o lugar estava cheio demais e nao havia espaco para a camera.