sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Depois de dois anos silenciosos...





       Olá a todos!

                     Bem, agradeço imensamente a todos que apareceram por aqui mesmo depois de mais de dois anos de silêncio. De mãos caladas e amarradas. Posso comentar muitos motivos para isso, mas o principal é que Moçambique é uma experiência única. Ela é tão intensa que as vezes não conseguimos sair do mundo ao qual entramos e retornar a realidade ao qual convivemos diariamente.

                   Soube que ao escrever a palavra-chave "macuse", meus textos são os primeiros na busca do google. Não fico feliz por isso, fico triste, pois ainda não há inclusão nem social, nem inclusão digital e seja lá qualquer inclusão que você pense ainda na bela Macuse. Mas muito além disso, ainda há um silêncio daqueles que realmente constroem o país. Aqueles que as Ongs não estão preocupadas, a ONU finge que atingiu em algum dos seus números ou o Banco Mundial maquia em algum resultado. As 81% da população que vivem da agricultura, onde compõe somente 32% do PIB. Ou seja, para resumir esse economês chulo básico: Quase toda a população vive da agricultura mas isso significa que é somente 1/3 da riqueza gerada pelo país. O bolo é dividido em 3 e uma parte dele vai para 81% das pessoas! Uau!

                Bem, essas pessoas boa parte é inalcançável. Nunca viu um branco na vida. Sim, nunca viu um branco! E eu não sou branca. Eles não tem televisão para saber que existe uma cor além daquela que estão próximas a eles. Eu lembro uma vez uma senhora me tocando e incrédula, olhava para mim. Eu era um monstro? Eu era o quê para ela? Eu era uma pessoa? Ela não sabia identificar o que eu era. Para uma pessoa que tinha passado quase um ano nos EUA, que era mexicana, indiana e no final brasileira, era algo surreal. Gente, desculpas. Os dois anos de silêncio foram dois anos analisando tudo que eu vivi. Costumo dizer que é um outro mundo. Não melhor e nem pior ao nosso. Um outro mundo somente. É uma esperança que é possível mudar as coisas, mas também uma desesperança na humanidade. De ver negros batendo em seus empregados também negros! Sim, eu vi isso e calada de medo, nunca pude me levantar contra. Como disse uma colega: "seu melhor amigo nesse país é sua passagem de volta para os EUA". No momento eu não entendi, mas ao longo dos seis meses que pareceram 10 anos, entendi direitinho o recado.
   
              Silêncio. Esse silêncio ao qual não existe no mundo em que vivemos. Um silêncio que grita tanto dentro de nós que nos cala indefinidamente. Que nos deixam marcas, lembranças... memórias que não se apagam. E não há nenhuma vontade que seja apagada. Afinal, como no nosso mundo, nem tudo é tão ruim que não haja aprendizado e nem tudo é tão bom que não possa ser resgatado em outros momentos. E entender isso foram duros passos de dois anos e alguns meses.

              Mas o silêncio não faz bem. Afinal, que belo país eu vivi. Pessoas felizes pelas ruas mesmo vivendo com menos de U$ 1,00 por dia! E por aqui eu vejo pessoas tristes se matando para entrar em uma barcas e ganham o mesmo que 30 famílias. São pessoas que ganham R$ 2,000,00 na bela Rio de Janeiro. Sim, com esse mesmo dois mil reais em Macuse 30 famílias dividem e até mais!


            Bem, retomando o blog, tentarei escrever mais. Falar sobre dicas de viagem, ong, política e um pouco do que estou trabalhando atualmente: saúde em um viés político. Agradeço a todos que em algum momento enviou email ou mensagens para mim agradecendo o blog e as postagens. Em um momento cheguei a receber ligações até da Inglaterra! Boa parte são pessoas que nunca vi na vida! Isso é único. Não vou escrever muito pois as pessoas reclamam que sou prolixa demais. Melhor escrever textos curtos.

 Até!

3 comentários:

Anônimo disse...

Estava esperando esse momento de registro de suas experiencias em Moçambique...vc tem muitas historias interessantes...

F.Mendes disse...

O que dizer? Muito. O que escrever? Acho que quase nada. Tudo nessa experiencia e tao pessoal e coletivo ao mesmo tempo que fica dificil. Sabemos ao olhar um para o outro. Quanto tempo, Bia? E tudo que passamos la? Ja faz algum tempo, mas continua martelando no nosso dia-a-dia. Beijao!

Bia disse...

Tão íntimo. Tão coletivo. Tão enriquecedor. :)